sábado, 2 de maio de 2020

        Todas e todos são importantes! O exemplo a seguir é só mais um entre tantos de escritoras, daqueles que guardam a memória e o afeto em nossas famílias. Aqueles que mesmo depois de terem a tradição cristalizada em suas consciências conseguem romper barreiras e rever os seus valores.
           Margaret Atwood tem 80 anos, boa parte de sua produção foi escrita após os 60 anos, inclusive os trechos que seguem, os quais foram retirados do belo livro, " A Odisséia de Penélope". No livro, Penélope e as 12 escravas enforcadas por Ulisses narram as suas vidas.

"E o que me restou, quando a versão oficial se consolidou? Ser uma lenda edificante. Um chicote para fustigar outras mulheres. Por que não podem todas ser tão circunspectas, confiáveis e sofredoras como eu? Era essa a abordagem que adotavam os cantores, os rapsodos. Não sigam o meu exemplo, sinto vontade de gritar nos ouvidos de vocês - sim, nos de vocês! Mas, quando tento gritar, pareço uma coruja." Penélope

"Também eramos crianças. Também nascemos dos pais errados. De pais pobres, pais escravos, pais camponeses e pais servos; pais que nos venderam, pais de quem nos roubaram. Nossos pais não eram deuses, não eram semideuses, não eram ninfas nem nereidas. Fomos servir no palácio, desde pequenas. Quando chorávamos, ninguém enxugava nossas lágrimas. Se dormíssemos, nos acordavam a pontapés. Diziam que não tínhamos pai nem mãe. Diziam que éramos vadias. Diziam que éramos sujas. Nós éramos sujas. A sujeira era nossa preocupação, nossa responsabilidade, nossa especialidade, nossa culpa. Éramos as moças sujas. Se nossos donos, seus filhos, um nobre visitante ou os filhos dele quisessem deitar conosco, não poderíamos recusar. Não adiantava chorar, não adiantava dizer que doía..." As doze escravas.

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