domingo, 16 de novembro de 2008

Conselhos de Steven Weinberg

“(...) Com ou sem religião, as boas pessoas podem se comportar bem e as más pessoas podem fazer o mal; porém para que as boas pessoas façam o mal, é necessária a religião”. (p.242)

“(...) Um dos grandes feitos da ciência tem sido, se não fazer impossível pessoas inteligentes serem religiosas, ao menos fazer possível para estas não serem religiosas. Não devemos nos esquecer deste feito.” (p. 242)

WEINBERG, Steven, Plantar Cara: la ciência y sus adversários culturales. Paídos, 2003

Steven Weinberg é físico, nasceu em 1933. Em 1979, recebeu o prêmio Nobel por seu trabalho sobre ondas eletromagnéticas.

Theodor Adorno tinha absoluta razão em criticar o pensamento fácil, as frases feitas, mas por outro lado, nunca abandonou os aforismos e a forma do ensaio. Ao citar as frases de Weinberg questiono dois aspectos que permeiam o pensamento de muitos religiosos que usam sua capacidade (ou incapacidade) para justificar o deletério.
O primeiro aspecto refere-se à defesa de que a religião é um freio moral a maldade. A despeito de toda a experiência histórica comprovadora de que a religião não conseguiu ser freio moral nem mesmo de seus líderes, ainda se espera que a mesma tenha validade normativa.
O segundo aspecto está na defesa que muitos fazem do místico em detrimento da ciência. Aquela velha afirmativa que muitos usam de que a ciência limita o horizonte das experiências humanas. Trata-se aqui de uma confusão intelectual que beira as idéias fascistas e totalitárias da primeira metade do século XX. Muitas vezes observamos isto como uma crítica despropositada da modernidade; um desejo descabido de reencantamento do mundo como se isso ainda fosse possível, muitas vezes confundindo conceitos e até mesmo tornando um sociólogo como Max Weber num místico. A estes leiam apenas o livro do mesmo sobre a racionalidade na música ocidental.
Mais uma vez o exemplo de Adorno é pertinente, ele sempre criticou os excessos negativos da modernidade nas suas mais diversas facetas históricas, mas nunca abandonou a defesa da razão (na sua visão o problema estava na racionalidade instrumental). Espero em breve dar continuidade a esta discussão ao tratar de um ensaio de Adorno sobre impossibilidade de se reencantar a arte por meio da religião na modernidade.