sábado, 25 de outubro de 2008

O posicionamento dos cientistas norte-americanos em relação às eleições

24/10/2008 - 12h51 (site uol)
Os cientistas esperam impacientes o fim da obscurantista era Bush

WASHINGTON, 24 Out 2008 (AFP) - Depois de oito anos de administração Bush, durante os quais a ciência esteve submetida à influência obscurantista da ideologia religiosa, os meios científicos vêem a chegada de um novo presidente quase como uma bênção divina, seja ele Barack Obama ou John McCain.

O democrata Obama e o republicano McCain, que responderam a uma pesquisa organizada por mais de 175 organizações científicas e universidades, se distanciam claramente de George W. Bush no que diz respeito às grandes questões científicas, assim como seu programa de apoio às pesquisas.

Os dois adversários prevêem, também, levantar a proibição, imposta em 2001 por Bush por meros motivos religiosos, de utilizar fundos federais para realizar pesquisas com células-tronco embrionárias, consideradas cruciais para lutar contra várias doenças incuráveis.

Obama e McCain reconhecem que a atividade humana contribui para o aquecimento global e recomendam reduções obrigatórias das emissões de gases de efeito estufa, algo a que Bush é declaradamente hostil.

Ambos os candidatos fizeram da redução da dependência de petróleo dos Estados Unidos sua prioridade. Obama quer aumentar em 150 bilhões de dólares em dez anos o orçamento federal consagrado à pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de energia assim como à poupança de energia.

McCain, menos comprometido neste terreno, propõe construir 45 centrais nucleares até 2030.

Tanto McCain como Obama querem revitalizar a exploração espacial, cujo orçamento é considerado insuficiente para conseguir os objetivos enunciados por Bush em 2004: regresso à Lua antes de 2020 e missões tripuladas a Marte e a outras partes do Sistema Solar.

Ambos os aspirantes à Casa Branca querem, também, dar um lugar mais destacado ao assessor científico do presidente que, desde 2001, foi relegado a um papel menor.

Mas diferem em seu enfoque da Teoria da Evolução. Apesar de ambos acreditarem na Teoria de Darwin, McCain se manifesta favorável ao ensino, em paralelo, nas escolas do "design inteligente", a teoria do neocriacionismo sobre a origem do mundo como alternativa à teoria da evolução.

As visões de Obama e McCain também se diferenciam na forma de financiar a pesquisa e estimular a inovação.

O republicano quer reduzir os impostos das empresas e eliminar regulamentos que "desestimulam os investimentos" nas atividades inovadoras.

O democrata planeja incrementar fortemente o orçamento federal para estimular a pesquisa básica e formar mais cientistas e engenheiros.

Este enfoque o converte no preferido do setor científico, meio que já estava perto dele por seu principal assessor científico, Harold Varmus, laureado com o Nobel de Medicina e ex-diretor dos Centros Nacionais da Saúde (NIH).

Obama também obteve o apoio de 61 prêmios Nobel americanos, entre os quais Martin Chalfie, co-laureado com o Nobel de Química 2008, que criticou a "diminuição dos orçamentos federais consagrados a pesquisa básica nos últimos oito anos".

Mas a crise financeira poderá limitar as ambições de ambos os candidatos, cujos projetos nessa área estão avaliados em 85,6 bilhões de dólares no caso de Obama e 78,8 bilhões no caso de McCain.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O sol nasce e morre, e volta.
E a lua nasce e morre, e volta.
E as estrelas nascem e morrem, e voltam.
E o homem nasce e morre, e não volta

canto sudanês (Dinka)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Definições de ateu (2)

O verdadeiro ateu não se encontra no número desses heróis hipócritas e sanguinários que, para se abrir uma estrada à conquista, se anunciam às nações que se propõem duvidar dos protetores do culto que elas professam e se divertem, no seio dos seus familiares, com a credulidade humana.
O verdadeiro ateu não é nunca esse homem vil que, mergulhado desde há longos anos pelo carácter indelével de impostor sacerdotal, muda de hábito e de opinião, quando esse ofício infame deixa de ser lucrativo e corre de forma vergonhosa a filiar-se entre os sábios que ele perseguia.
O verdadeiro ateu não é nunca energúmeno que decide quebrar nos corredores todos os sinais religiosos que encontra e proclama o culto da razão à plebe, que não tem se não instinto.
O verdadeiro ateu não é nunca um desses homens mundanos, ou pessoas que assim se julgam que pelo tom desdenham do uso do pensamento e vivem quase como o cavalo que eles montam, ou a mulher que eles mantêm.
O verdadeiro ateu não está nunca sentado nos cadeirões dessas sociedades científicas, em que os indivíduos mentem à sua consciência sem cessar e conseguem disfarçar o seu pensamento, retardar a marcha solene da filosofia, por mesquinhos interesses pessoais ou por piedosas considerações políticas.
O verdadeiro ateu não é esse quase sábio orgulhoso, que gostaria que não houvesse mais ateus no mundo e que o deixaria de ser se a maior parte assim se tornasse. A mania de se singularizar deu-lhe um lugar na filosofia. O amor-próprio é o seu deus. Se ele pudesse, guardaria todo o saber só para si e, ao ouvi-lo, o resto dos homens não seriam mais dignos disso.
O verdadeiro ateu não é ainda esse filósofo timorato e sem energia, que fica corado com a sua opinião como um mau pensamento; pouco amigo da verdade, comprometer-se-á em vez de se comprometer. Vê-se que freqüenta os templos, para afastar da sua pessoa a suspeita de impiedade e, como egoísta circunspecto até a pusilinamidade, a extirpação dos mais antigos preconceitos parece-lhe sempre precoce: não tem medo de Deus, mas duvida dos homens. Que eles se destruam nas guerras religiosas e civis, desde que ele viva, protegido e em descanso!
O verdadeiro ateu não é ainda esse físico sistemático que não rejeita um Deus a não ser para ter a glória de criar o mundo, sempre à sua vontade, sem outra ajuda que não seja a sua imaginação.
O verdadeiro ateu não é tanto aquele que diz: “Não! Eu não preciso de um Deus”, mas aquele que diz: “Eu posso ser sábio sem um Deus”.
O verdadeiro ateu não raciocina com mais argúcia contra a existência divina.
[...]
O verdadeiro ateu é um filósofo modesto e tranqüilo que não gosta muito de passar por estúpido e que não declara os seus princípios com uma ostentação pueril, sento o ateísmo a coisa mais natural e a mais simples do mundo.
Sem discutir a favor ou contra a existência divina, o ateu segue o seu próprio caminho e faz por ele o que outros fazem pelo seu Deus, e não é para agradar à divindade, mas para estar de bem consigo, que ele pratica a virtude.
Muito firme para obedecer a alguém, mesmo a um Deus, o ateu apenas recebe ordens de sua consciência.
O ateu tem um tesouro a guardar que é a sua honra. Ora, um homem que se respeita, sabe o que deve defender ou permitir-se e enrubesceria, neste aspecto, se recebesse um conselho ou seguisse algum modelo.
O ateu é um homem de honra. Sentiria vergonha de dever a um Deus uma boa obra que pode produzir por si mesmo e em seu próprio nome. Não gosta de ser conduzido ao bem ou desviado do mal: procura um e evita o outro,à sua inteira vontade e se puder descansa em si mesmo.
Quantas belas ações foram atribuídas a um Deus e que apenas tinham como princípio o coração do grande homem que as produzia!
O mais perfeito sem interesse é à base de todas as determinações do ateu. Ele sabe que tem alguns direitos e deveres exerce uns sem orgulho e cumpre outros sem constrangimento. A ordem e a justiça são as suas próprias divindades e apenas lhes faz livres sacrifícios: somente o sábio tem o direito de ser ateu.

Definições de ateu (1)

A nossa profissão de fé não é a religiosa, mas sim a dúvida. Não apresentamos verdades, como livre-pensadores sempre defenderemos o ceticismo. O benefício da dúvida é nosso, e os religiosos? Eles se permitem a dúvida? Talvez, a dúvida se a sua submissão é adequada ou não ao seu deus.

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Nesta postagem darei início à apresentação de várias definições do ateu. Iniciamos com a definição de Sylvain Marechal (1750-1803), advogado no Parlamento francês.

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O que é um ateu?

(Sylvain Maréchal, 1800)

Pois bem! Um verdadeiro ateu é esse homem do século de oiro. O ateu é o que, limitando-se a sim mesmo e libertando-se das ligações que o fazem constranger apesar de si ou como saída, remonta através da civilização a esse antigo estádio da espécie humana e, criando no fórum da sua consciência mais baixa e em seu redor preconceitos de todas as cores, se aproxima mais de perto desse tempo afortunado em que não se duvidava da existência divina, onde se achava bem e cumpria apenas os deveres da família. O ateu é o homem da Natureza.

No entanto, colocado hoje numa esfera mais complicada e mais estreita ele cumpre as suas obrigações de cidadão e resigna com as regras da própria necessidade. Mas sem deixar de lamentar as bases viciosas das instituições políticas, manifestando o seu desprezo por aqueles que tão mal as organizam e submetendo-se à ordem pública em que se encontra. E não se vê ele tornar-se chefe de partido ou de opinião. Nunca o encontram na linha normal que conduz aos empregos vantajosos ou mais brilhantes. Conseqüente com os seus princípios, vive sempre no meio dos seus contemporâneos corruptos ou corruptores, como esse viajante que, tendo de atravessar regiões lamacentas, se protege do veneno dos répteis. Ele evita ser aturdido pelos silvos. E caminha entre esses malfeitores, sem adoptar a sua atitude tortuosa e rasteira.

O verdadeiro ateu não é, pois, esse sibarita que, considerando-se como epicurista, não passa afinal de um debochado, não receia dizer ou repetir: “Não existe Deus e, portanto, não existe moral e tudo me posso permitir”.

O verdadeiro ateu não é nunca esse homem de Estado que, sabendo que a quimera divina foi imaginada para ser imposta às gentes do povo, as comanda em nome desse Deus de que ele zomba.

continua

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mensagem aos pós-modernos

Este blog comentará os diversos casos de credulidade existentes entre nós. Sejam aqueles que envolvem religião, música, política, ou mesmo sociologia e história.
Claro está que há uma preferência temática: a religião. Destarte, como mensagem inicial, convoco todos aqueles que se dizem pós-modernos ou que são paladinos da tese dos "saberes-poderes que produzem discursos de verdade" à refletirem sobre sua fé e colocarem-na sob o crivo da crítica. Ou, é claro, a religião é o único discurso com pretensões de verdade que os pós-modernos não gostam de criticar, principalmente se a religião ainda for existente e demonstrar algum poder político.