sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Entrevista Juan Rulfo

Juan Rulfo deve ter sofrido horrores com as pressões para escrever, escritor de uma novela e alguns contos. Quem puder ver a entrevista, percebe o quanto ele se sentia incomodado, um presente-ausente do "mainstream" literário, e da cova dos leões da crítica literária.



Eis uma precisa observação sobre o que devemos temer e compreender, uma visão não condescendente do nosso íntimo.

***
Para as assombrações, desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa - 
O cérebro tem corredores que superam
Os espaços materiais

Mais seguro é encontrar à meia-noite
Um fantasma,
Que enfrentar, internamente,
Aquele hóspede mais pálido.

Mais seguro é galopar cruzando um cemitério
Por pedras tumulares ameaçado,
Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo
Em desolado espaço.

O "eu", por trás de nós oculto,
É muito mais assustador,
E um assassino escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é o menor

O homem prudente leva consigo uma arma
E cerra os ferrolhos da porta,
Sem perceber um outro espectro,
Mais íntimo e maior.

Emily Dickinson

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"No instante em que nasce, ela é um fenômeno de ruptura. Há uma expressão corrente que nos faz sentir isso de forma viva:´fazer época´não significa intervir passivamente na cronologia, mas precipitar o momento." Henri Focillon, Vie des formes. Paris, 1934, p. 94

As experiências de George Orwell no internato São Cipriano

"(...) Tomemos a religião, por exemplo. Eu deveria amar a Deus e não questionar isso. Até por volta dos catorze anos, eu acreditava em Deus e que os relatos feitos sobre ele eram verdadeiros. Mas tinha plena consciências de que não o amava. Ao contrário, o odiava, assim como odiava Jesus e os patriarcas hebreus. Se eu tinha algum sentimento de simpatia por algum personagem do Velho Testamento, era por pessoas com Caim, Jezebel, Aman, Agag, Sisara; no Novo Testamento, Pôncio Pilatos. Mas toda a coisa da religião me parecia salpicada de impossibilidades psicológicas. O livro de Orações, por exemplo, mandava amar a Deus e temê-lo: mas como se podia amar alguém que se temia? Com os sentimentos privados era a mesma coisa. O que se devia sentir estava geralmente claro, mas a emoção apropriada não podia ser imposta. Era óbvio que meu dever era me sentir grato em relação a Flip e Sambo, mas eu não tinha esse sentimento. Também estava claro que devíamos amar nosso pais, mas eu sabia muito bem que não gostava de meu pai, que eu mal havia visto antes dos oito anos e que me parecia apenas um velho de voz rouca dizendo sempre ´não´. Eu queria possuir as qualidades certas e sentir as emoções certas, mas não conseguia. O bom e o possível nunca pareciam coincidir." George Orwell, "Tamanhas eram as alegrias", p.290-291.


"...Todos os que passaram dos trinta anos são uma gente grotesca e infeliz, eternamente preocupada com ninharias e que, tanto quanto a criança pode ver, permanece viva sem ter motivo para viver. Só a vida da criança é vida verdadeira. O diretor de escola que imagina que é amado e desfruta da confiança de seus alunos é, na verdade, arremedado e objeto de riso pelas costas. Um adulto que não pareceperigoso quase sempre parece ridículo..." George Orwell

"...A criança e o adulto vivem em mundos diferentes. Se é assim, não podemos ter certeza de que a escola, ao menos os internatos, deixou de ser, para muitas crianças, a experiência terrível que costumava ser. Tirem-se Deus, o latim, a vara, as distinções de classe e os tabus sexuais, e o medo, o ódio, o esnobismo e o mal-entendido talvez ainda estejam todos lá. ..." George Orwell

Livros...

"...De fato, toda paixão confina com um caos, mas a de colecionador com o das lembranças. Contudo, direi mais ainda: o acaso e o destino que tingem o passado diante de meus olhos se evidenciam simultaneamente na desordem habitual desses livros..." Walter Benjamin

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Bispos preocupados com educação do povo, pedindo a cabeça de Anísio Teixeira em 1958. E olhem, Anísio Teixeira queria apenas a ampliação do ensino público no país.

"Memorial dos bispos gaúchos ao Presidente da República sôbre a Escola Pública única."

Orwell e o ensino de História na sua época


             De George Orwell é delicioso, sobre vários aspectos, ler os relatos de suas experiências juvenis ou "reportagens de campo". No trecho abaixo, ele nos dá a exata medida do que era o ensino de História nas escolas inglesas, o qual depois de muitas décadas ainda persiste na prática de algumas escolas e professores, aqui no Brasil, provavelmente, também naquelas terras ao norte. É importante destacar o tom de reprovação de Orwell ao modelo "factual-decoreba", as suas observações irônicas. Não nego a necessidade do professor-historiador ater-se a dimensão cronológica, mas inculcar isto em crianças e adolescentes é perda de tempo.

xxx

"Naquela época, havia uma cosia absurda chamada Prêmio de História Harrow, uma competição anual da qual participavam muitas escolas preparatórias. Era uma tradição da São Cipriano vencer todos os anos, e não era para menos, pois havíamos estudado com afinco todas as provas propostas pela competição desde seu início, e o suprimento de questões possíveis não era inexaurível. Eram o tipo de pergunta que se responde repetindo rapidamente um nome ou uma citação. Quem saqueou as begumes? Quem foi decapitado num barco aberto? Quem pegou os whigs se banhando e levou embora suas roupas? Quase todo o nosso ensino de história era desse nível. A história era uma série de fatos sem relação entre si, ininteligíveis, mas importantes - de algum modo que jamais nos era explicado - , com frases retumbantes amarradas a eles. Disraeli trouxe paz com honra. Hastings ficou espantado com sua moderação. Pitt chamou o Novo Mundo para corrigir o equilíbrio do Velho. E as datas, e os estratagemas mnemônicos!(Você sabia, por exemplo, que as letras iniciais de " A black Negress was my aunt: there´s her house behind the barn" são também as letras iniciais das batalhas da Guerra das Rosas?) Flip, que "tomava" as formas mais altas de história, deliciava-se com esse tipo de coisa. Lembro-me de verdadeiras orgias de datas, com os meninos mais afiados saltando em seus lugares, ávidos por gritar as respostas certas e, ao mesmo tempo, não sentindo o menor interesse pelo significado dos misteriosos eventos que citavam.
"1587?"
"Massacre de São Bartolomeu!"
"1707?"
"Morte de Aurangzeeb?"
"1713?"
"Tratado de Utrecht!"
"1773?"
"Festa do Chá de Boston!"
"1520?"
"Ó, Mum, por favor, Mum..."
"Por favor, Mum, por favor, Mum! Deixe-me dizer, Mum!"
"Muito bem!1520?"
"Campo do Pano de Ouro!"
E assim por diante."
Orwell,"Tamanhas eram as alegrias" (Como morrem os pobres e outros ensaios), p.259-260.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Uma das pessoas que me entrevistaram ontem me perguntou no final:'Que espera, professor?´ Eu respondi:'Não tenho nenhuma esperança. Como leigo, vivo em um mundo que desconhece a dimensão da esperança.´Sim, a esperança é uma virtude teológica. Quando Kant afirma que um dos três grandes problemas da filosofia é 'que devo esperar?' refere-se, com tal pergunta, ao problema religioso. As virtudes do leigo são outras: o rigor crítico, a dúvida sistemática, a moderação, a não-prevaricação, a tolerância, o respeito pelas ideias alheias; virtudes mundanas e civis." Norberto Bobbio

O chapéu e o drama de Lester Young


sexta-feira, 31 de maio de 2013

"P.M."

              Os defensores brasileiros de Cuba, encontram diversas formas para justificarem, ou omitirem,  os absurdos que acontecem (o que já aconteceram) na ilha do Doutor Castro. Alguns afirmam que ali nunca houve perseguição política, censura ou campos de trabalhos forçados para os homossexuais; assim como a fabricação de suicídios. Outros acreditam piamente que Yoani Sánchez é uma agente da C.I.A., sendo suas críticas um roteiro estabelecido no inferno mais ao norte.  Outros, muitos no governo brasileiro, consideram que somente são abjetas, as torturas e a censuras cometidas em governos ditatoriais de direita, quando ocorrem no leito do rio que leva ao paraíso, estas práticas no máximo podem ser chamadas de efeitos colaterais. Ainda existem aqueles que cientes dos custos a pagar ao diabo da revolução, afirmam que é preciso eliminar todos aqueles que se opõem a mesma. Tenho menos medo destes, pois sei o que podem fazer.
               Décadas de regime castrista, e ainda vemos no Brasil gente repetindo ingenuamente, para ser bondoso, a mesma credulidade de Haydée Santamaría (chefe da Casa de las Américas, na década de 1960) que ao visitar a U.R.S.S. acreditou nas palavras da Ministra da Cultura, Ekaterina Furtseva, que apresentava a sua versão para o desaparecimento de vários escritores e intelectuais dentro do primeiro paraíso comunista na Terra. "(...) 'Em Moscou, conheci Ekaterina Furtseva. Você sabe, a ministra da Cultura. Uma mulher magnífica!', o que ela era, 'e tão amável', o que não era, a famosa Sorriso de aço. 'Sabe o que ela fez? A ministra Furtseva me explicou, de mulher para mulher (ou melhor, de companheira para companheira), o que aconteceu com os escreitores e artistas que morreram na época de Stalin. Eles não foram mortos por serem poetas herméticos, romancistas burgueses e pintores abstratos. Não, na verdade foram fuzilados porque eram espiões nazistas, e não artistas. Você pode imaginar uma cosa destas? Todos agentes de Hitler! Não houve outra saída  a não ser exterminá-los. Entende?' (...)" (Mea Cuba, Guilhermo Cabrera Infante, 1996, p. 93)
                Em 1961, um pequeno documentário de treze minutos, realizado por Sabá Cabrera Infante e Orlando Jiménez-Leal, causou uma verdadeira inquisição na ilha do Doutor Castro. Aquela pequena peça de vídeo, aparentemente sem consequências políticas, pois mostrava apenas pessoas comuns se divertindo na noite havanera, iniciou um processo de perseguição ao diretor do suplemento literário Lunes, no caso Guilhermo Cabrera Infante. Montou-se um julgamento informal, no qual vários intelectuais e o próprio Castro participaram, dando início ao rompimento de Cabrera Infante com o melhor dos regimes possíveis. 
                 Muitos, de má fé, argumentarão que se trata de falas de um dissidente, entretanto, são muitos os dissidentes que confirmam tudo o que Cabrera Infante relatou. Mas, segue abaixo o documentário para quem quiser ver, e então arriscar a responder o que mais incomodou a censura da ilha do Doutor Castro. Foi a felicidade daquelas pessoas bebendo e dançando? A presença de homossexuais em um dos bares? O fato daquelas pessoas não estarem sisudas, preocupadas com os seus afazeres revolucionários.


                     

segunda-feira, 27 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

American Music Club

              Aqui vai uma das melhores músicas de uma banda pouco conhecida no Brasil, American Music Club, liderada pelo excelente letrista Mark Eitzel: "What Holds the World Together" ; álbum, "San Francisco" (1994).

domingo, 19 de maio de 2013

Lúcio Cardoso por Clarice Lipector

                Clarice Lispector tem trechos citados a atacado, entretanto isto não faz de sua obra menos importante, ou sem qualidade, já que hoje, os excessos de exposição combinam com falta de conteúdo. Talvez, muitos citem-na sem compreender a complexidade e sutileza da sua visão sobre as relações humanas. Outro autor, enigmático e genial, foi Lúcio Cardoso, pelo qual Clarice Lispector nutria profundo respeito, muito mais que respeito, uma profunda identidade, ambos deslocados no mundo. Ambos com uma percepção para o humano, diferente das dos demais, únicos em desvendar os mistérios da intimidade.
                 Em homenagem a Lúcio Cardoso, reproduzo aqui o "epitáfio" escrito por Clarice Lispector após a morte do autor. Não diria um epitáfio, mas uma declaração de amor, de tristeza por perder aquele que mais próximo dela sentia as dores do mundo, da intimidade.

***

LÚCIO CARDOSO*

Clarice Lispector

Lúcio, estou com saudade de você, corcel de fogo que você era, sem limite para o seu galope.
               Saudade eu tenho sempre. Mas, saudade tristíssima, duas vezes.
               A primeira quando você repentinamente adoeceu, em plena vida, você que era a vida. Não morreu de doença. Continuou vivendo, porém era homem que não escrevia mais, ele que até então escrevera por uma compulsão eterna gloriosa. E depois da doença, não falava mais, ele que já me dissera das coisas mais inspiradas que ouvidos humanos poderiam ouvir. E ficara com o lado direito todo paralisado. Mais tarde usou a mão esquerda para pintar: o poder criativo nele não cessara.
             Mudo ou grunhindo, só os olhos se estrelavam, eles que sempre haviam faiscado de um brilho intenso,  fascinante e um pouco diabólico.
             De sua doença restaria também o sorriso: esse homem que sorria para aquilo que o matava. Foi homem de se arriscar e de pagar o alto preço do jogo. Passou a transportar para as telas, com a mão esquerda (que, no entanto, era incapaz de escrever, só de pintar) transparências e luzes e levezas que antes ele não parecia ter conhecido e ter sido iluminado por elas: tenho um quadro, de antes da doença, que é quase totalmente negro. A luz lhe viera depois das trevas da doença.
            A segunda saudade foi já perto do fim.
           Algumas pessoas amigas dele estavam na ante-sala de seu quarto no hospital e a maioria não se sentiu com força de sofrer ainda mais ao vê-lo imóvel, em estado de coma.
            Entrei no quarto e vi o Cristo morto. Seu rosto estava esverdeado como um personagem de El Greco. Havia a Beleza em seus traços.
           Antes, mudo, ele pelo menos me ouvia. E agora não ouviria nem que eu gritasse que ele fora a pessoa mais importante da minha vida durante a minha adolescência. Naquela época ele me ensinava como se conhecem as pessoas atrás das máscaras, ensinava o melhor modo de olhar a lua. Foi Lúcio que me transformou em ´mineira´: ganhei o diploma e conheço os maneirismos que amo nos mineiros.
           Não fui ao velório, nem ao enterro, nem à missa porque havia dentro de mim silêncio demais. Naqueles dias eu estava só, não podia ver gente: eu vira a morte.
            Estou me lembrando de coisas. Misturo tudo. Ora ouço ele me garantir que eu não tivesse medo do futuro porque eu era um ser com a chama da vida. Ele me ensinou o que é ter chama da vida. Ora vejo-nos alegres na rua comendo pipocas. Ora vejo-o encontrando-se comigo na ABBR, onde eu recuperava os movimentos de minha mão queimada e onde Lúcio, Pedro e Míriam Bloch chamavam-no à vida. Na ABBR caímos um nos braços do outro.
         Lúcio e eu sempre nos admitimos: ele com sua vida misteriosa e secreta, eu com o que ele chamava de ´vida apaixonante´. Em tantas coisas éramos tão fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos casado.
sobre Lúcio? Você contaria de seus anseios e alegrias, de suas angústias profundas, de sua luta com Deus, de suas fugas para o humano, para os caminhos do Bem e do Mal. Você, Helena, sofreu com Lúcio e por isso mesmo mais o amou.
           Enquanto escrevo levanto de vez em quando os olhos e contemplo a caixinha de música antiga que Lúcio me deu de presente: tocava  com em cravo a Pour Élise. Tanto ouvi, que a mola partiu. A caixinha de música está muda? Não. Assim como Lúcio não está morto dentro de mim.

* Retirado de a "Crônica da Casa Assassinada", Edição Crítica, ALLCA XX.

***



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Vozes, Hermann Broch

             Os versos abaixo foram retirados do livro, Os Inocentes, e tiveram uma primeira versão em 1913/1914. A Primeira Grande Guerra estava a caminho, a Europa não seria mais a mesma. Hermann Broch mostra-nos o que viria a seguir,  a irresponsabilidade de muitos e o voluntarismo de poucos. Esses ao se tornarem protagonistas produziriam as mais diversas atrocidades. Vale a pena uma leitura do "poema": Vozes (primeira versão 1913/1914).

xxx
Vozes (1913)

(...)
Eis a grande fase da juventude burguesa:
Ela pensa em amor, dinheiro e outras banalidades,
Inteiramente disposta a renunciar ao resto;
Construindo seus mundos à base de ciumeiras.
Deus é um requisito aproveitável em poemas,
E a política, outrora virtude principesca,
Mostra-se desprezível ao leitor de jornais,
Que a considera um simples vício da ralé.
Tal atitude livra-o de quaisquer deveres.
É isso o que acontecia em mil novecentos e treze,
Com um ruído surdo nas almas, 
Com gestos de palcos de óperas,
E, no entanto, ainda existia, leve e formoso,
O arco-íris, a aura dos ritos de eros,
Os ecos de festas passadas, 
Colarinhos engomados, espartilhos, rendas;
Ah, e as encantadoras crinolinas!
Ó derradeiro, meigo ano da despedida do Barroco!

(...)
Adeus Europa! A bela tradição chegou ao fim.

             Bum, bum bumba,
             Vamos à peleja;
             Não sabemos qual seja
             A luta mas a tumba,
             Em boa companhia,
             Será acolhedora.
             Se lá em casa chora
             A triste amada,
             Rimos de seu pranto.
             Com jubiloso canto,
            A baioneta em riste,
            Aleluia, aleluia,
            Nós vamos à peleja.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

DAME LA MANO

DAME LA MANO


Dame la mano y danzaremos;
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...

El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.

Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina, y nada más

Ternura, Gabriela Mistral
               "Acredito nos cafés, no diálogo, acredito na dignidade da pessoa, na liberdade. Sinto saudade, quase ansiedade de um infinito, mas humano, na nossa medida." A resistência,Ernesto Sabato.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

La hora

La hora

Hora, tiempo vacío
que por mis venas fluye;
hora que crece, inmensa,
no afuera sino adentro

Fluye, callado, el tiempo;
al borde de mí mesmo, 
sombra de mí, me miro:
?soy el mismo, soy otro?

En silencio me escucho:
escribo, borro, escribo
y al filo de esta pausa
me inventa una palabra.

Octavio Paz, 1941

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estado Laico ameaçado, Feliciano não esta sozinho!!

EDITORIAL DO ESTADÃO, 31/03/2013


Pior que o caso do pastor

31 de março de 2013 | 2h 07
O Estado de S.Paulo
Com o noticiário do Congresso concentrado no escândalo Feliciano - a entrega da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ao deputado evangélico Marco Feliciano, do Partido Social Cristão (PSC), que deu motivos para ser considerado racista e homofóbico, e que insiste em permanecer no cargo, apesar dos incessantes protestos de que é alvo - a imprensa deu escasso destaque a uma aberração ainda maior. Na mesma quarta-feira em que o mau pastor mandou prender um manifestante, retirar os demais do plenário da comissão para, enfim, justificar a truculência com a alegação de que "democracia é isso", a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa aprovou uma proposta que agride um dos princípios basilares da República brasileira: o caráter laico do Estado.
De autoria do tucano João Campos, de Goiás, membro da suprapartidária bancada evangélica, o projeto estende às organizações religiosas a prerrogativa de contestar a constitucionalidade das leis no Supremo Tribunal Federal (STF). Pela Constituição, podem propor ações dessa natureza o presidente da República, as Mesas do Senado, Câmara e Assembleias Legislativas, governadores, o procurador-geral da República, a OAB, partidos com representação no Congresso, confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional. O leque de agentes públicos e privados aptos a entrar no STF com as chamadas Ações Diretas de Constitucionalidade (Adin) é, portanto, suficientemente amplo para representar legitimamente as múltiplas correntes da população insatisfeitas com essa ou aquela norma legal - preservada a separação entre Estado e igreja.
Exemplo disso foi a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no bojo da Lei de Biossegurança aprovada pelo Congresso depois de intensos debates e plena participação da sociedade e sancionada pelo então presidente Lula em março de 2005. A Igreja Católica, por intermédio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se bateu com veemência contra a medida, assim como fizeram outras denominações religiosas, contornou o impedimento constitucional de bater, ela própria, às portas do Supremo Tribunal. Não lhe foi difícil encontrar a alternativa na pessoa do procurador-geral da República, à época, o católico praticante Cláudio Fonteles. Admitida a Adin, a CNBB teve todas as oportunidades de sustentar os seus pontos de vista no curso do histórico julgamento - que concluiu pela constitucionalidade da lei.
Argumenta Campos, o autor do projeto acolhido pela CCJ, que as associações religiosas deveriam ter o direito de pedir à Justiça que invalide dispositivos legais que, no seu entender, poderiam interferir na liberdade religiosa e de culto, assegurada na Carta. Seria o caso de eventual legislação que torne crime a homofobia. Em alguns cultos evangélicos, como se sabe, o homossexualismo é verberado como uma das mais repulsivas ofensas às leis divinas. Nem sempre são nítidos os limites entre essa pregação e o incitamento do ódio aos gays. O pastor Feliciano, por exemplo, escreveu certa vez que "a podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição". O problema, de toda forma, é a barreira infranqueável que impede o contágio do Estado pelas religiões organizadas e vice-versa.
Do mesmo modo que não se pode aceitar com naturalidade que um parlamentar com as opiniões de Feliciano conduza um órgão destinado a proteger, entre outras, as vítimas da discriminação e do preconceito, é inconcebível que se considere natural que entidades confessionais possam ser incluídas entre aquelas apropriadamente credenciadas para questionar no STF a adequação das leis à Constituição. Delas, convém lembrar, fazem parte as legendas com assento no Congresso - como o PSC de Feliciano. Felizmente, o projeto de emenda constitucional aprovado na CCJ tem ainda um longo percurso pela frente. Será submetido à Comissão Especial da Câmara e, eventualmente, ao plenário da Casa, em duas votações com quórum qualificado. Passando, enfrentará o mesmo rito no Senado. Tempo bastante e instâncias suficientes de decisão para que tenha o merecido destino - o arquivamento.

quinta-feira, 21 de março de 2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA DE PETER BURKE A REVISTA DE LETRAS/LA VANGUARDIA

             Segue entrevista com o historiador inglês Peter Burke.

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Peter Burke: “Sin imaginación no se puede escribir Historia”

Por  | Entrevistas | 6.02.13

Peter Burke (foto de uso promocional)
Los estudios históricos tienen relativo valor en nuestro país, poco dado a reconocer la riqueza que atesoran las ciencias humanas. No piensan así los británicos, un pueblo que ha sabido mantenerse en la élite cultural mundial y que ha alumbrado a los más brillantes historiadores. Uno de los más destacados de la actualidad, Peter Burke (1937), ha venido a Barcelona a participar en el debate organizado por el Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona (CCCB), que se celebra hasta marzo bajo el epígrafe En Común.
El debate busca reivindicar espacios que no se rijan por la medida del valor de mercado, sino por la noción de lo que es útil para toda la comunidad, y han dado en el clavo invitando a Peter Burke, un hombre tan culto y de mente abierta como generoso en conocimiento. El reconocimiento no se hizo esperar: Burke llenó el aforo.
Esa misma mañana conversé con él sobre su Historia social del conocimiento I. De Gutenberg a Diderot (Paidós, 2002) y II. De la Enciclopedia a la Wikipedia (Paidós, 2012), libros de imprescindible lectura para todo aquél que tenga curiosidad por descubrir cómo el conocimiento influye en nuestras vidas. La entrevista deriva por derroteros diferentes: el papel del historiador, la relación entre conocimiento e imperialismo, la Wikipedia, el pensamiento innovador, la República de las Letras, los servicios secretos británicos y un escritor por quien Peter Burke muestra una gran devoción: Javier Marías.
¿La Historia sólo se puede escribir desde la  objetividad?
Al contrario, la Historia no puede escribirse desde un punto de vista objetivo, porque está escrita por seres humanos. Creo que el problema de sesgo, como nosotros le solemos denominar, es muy grande; y la manera de combatirlo es presentando diversos puntos de vista, precisamente para evitar presentar uno único, que es además el nuestro personal. El historiador puede confesar su punto de vista a los lectores al principio del libro y también puede tratar de presentar los puntos de vista que son diferentes al suyo; lo que no puede hacer es ser objetivo, algo que sí se creyeron sin embargo los historiadores del siglo XIX.
¿Al historiador le mueve la verdad?
Sí, pero sabemos que nunca alcanzaremos toda la verdad; como se suele decir en la Corte británica sólo puedes aspirar a la verdad, pero la verdad completa nunca se puede obtener, por eso, los historiadores también tenemos que explicar a los lectores lo que no sabemos. El famoso historiador de arte Ernst Gombrich lo dijo en bonito en su célebre frase: “La Historia es como un queso gruyer, está llena de agujeros“. En este sentido, la verdad es como un espejismo, nunca se alcanza, pero es bueno estar orientados por ella, es como vamos a estar más cerca de lograrla.
En 1750 muchos europeos cultos seguían aferrándose a la idea tradicional de que el mundo tenía seis mil años. Sin embargo arqueólogos, paleontólogos, geólogos y astrónomos no paraban de hacer descubrimientos que demostraban lo contrario. Los arqueólogos descubrieron a la humanidad un tiempo profundo más allá del bíblico, y hubo que admitir una prehistoria.
¿Cuál es el papel del historiador en todo esto?
El de estar como absorbido o “muy metido” en un tema, y a través de la imaginación poder explicar a los lectores del siglo XXI por qué la gente de determinada época podía pensar que el mundo sólo tenía seis mil años de antigüedad. Los historiadores traducen el pasado y lo traen a su propio tiempo. Su trabajo es hacer inteligible el pasado a sus contemporáneos.
Por eso mismo, en cada generación hay que escribir la Historia, no sólo porque surgen nuevos descubrimientos, sino porque los lectores son diferentes, con distintos supuestos, y necesitan que se les expliquen las cosas sobre el pasado de otra manera, bajo otros parámetros. La Historia es emocionante porque implica intentar imaginarse a uno mismo en otra época, en otra cultura, para luego volver y explicar cómo eran las cosas antes y por qué la gente asumía como natural algo que para una generación posterior supone precisamente todo lo contrario.
Hace falta imaginación para ser historiador…
Absolutamente, no puedes escribir Historia si no tienes imaginación.
En la época de Napoleón se vivió un intenso proceso de conquista científica que llenó las arcas de museos y bibliotecas nacionales. Después de la invasión francesa de los Países Bajos se enviaron cinco vagones de tren llenos de manuscritos, plantas, fósiles y minerales a París. Después de la invasión de Holanda se envió a París una colección entera de elefantes fósiles. Tras ocupar Verona, Napoleón despachó una colección de seiscientos fósiles también a París. Escribe Burke –con cierto humor- que resulta difícil imaginarse un período, anterior o posterior en el que los ejércitos se tomaran los fósiles tan en serio.
Imaginemos pues. Napoleón se hizo acompañar por más de ciento cincuenta especialistas científicos cuando invadieron Egipto. ¿Qué buscaban?
No sé, tengo que suponer. Pero creo que querían extender el Imperio francés, y por lo general, primero se conquistaba un territorio y después se trataba de averiguar cómo era. Como cuando franceses y normandos conquistaron Inglaterra en 1066, hicieron un inventario de todo, de la gente que vivía en los pueblos e incluso de los animales. Querían conocer a fondo el territorio que a partir de entonces tenían que gobernar. Supongo que Napoleón estaba haciendo algo similar y quería saber qué tipo de lugar era el que se incorporaría al Imperio francés -lo cual finalmente no sucedió- en su afán de expansión por Argelia, Marruecos… Así que iban haciendo inventario.
Para el conocimiento es una contradicción estar al servicio del imperialismo, podríamos decir que es en parte contaminada por él; pero eso no impidió que se recogieran conocimientos valiosos. Además, muchas veces, estos científicos que acompañaban al ejército y recogían muestras desarrollaron una gran simpatía por los habitantes indígenas de estos territorios. Los antropólogos se formaban para trabajar en el Imperio británico, el Imperio francés u otro, pero ellos mismos, tras vivir dieciocho meses en contacto con los indígenas y aislados de sus culturas occidentales, desarrollaron una relación muy estrecha con ellos y, al regresar a sus países de origen, defendieron los derechos de los pueblos conquistados contra el Imperio. Así que, de nuevo, se da la paradoja pero a la inversa, ahora el antropólogo, que se formó para servir a las necesidades del Imperio, reacciona contra el Imperio al que sirven.
¿Estos antropólogos y científicos eran conscientes del saqueo cultural?
Es pillaje sólo si se llevan las cosas de allí. Por supuesto, esto sucedió, pero hay que recordar también que, por ejemplo, en algunos lugares arqueológicos en Egipto se realizó una férrea defensa contra el saqueo. Pero, por supuesto, el saqueo se llevó a cabo y a veces como británico que soy me resulta embarazoso ir al British Museum -visita que hago con regularidad porque muestra una colección impresionante de artefactos de tantas partes del mundo-, y me siento avergonzado al descubrir cuántos de esos artilugios o piezas se encuentran en el museo porque hubo saqueo, porque el ejército enviado al Medio Oriente saqueó y quemó pueblos y aldeas y se llevaron cosas que ahora se encuentran en el museo.
Tomemos el ejemplo de los antiguos mármoles del Partenón que se encuentran en el British Museum. Cuando fueron adquiridos, Grecia no existía como Estado independiente, sino que formaba parte del Imperio Otomano, y éste no estaba interesado por las antiguas ruinas griegas. Se podría incluso decir que estas piezas tuvieron una mejor oportunidad de supervivencia en el British Museum que en cualquier otro lugar. Pero, por supuesto, una vez Grecia se convierte en un Estado independiente la situación cambia, sin embargo los británicos nunca se han mostrado dispuestos a adaptarse a esto. Yo no creo que todas las piezas deban enviarse de regreso a su lugar de origen, pero sí aquellas que están particularmente próximas a la identidad nacional. Así sucedió cuando Dinamarca devolvió a Islandia hace unas décadas los manuscritos de las sagas que habían estado custodiados en la Biblioteca de Copenhague. En cuanto Islandia alcanzó la independencia los manuscritos fueron restituidos a la nueva república. Yo creo que el British Museum debería hacer lo mismo con los mármoles del Partenón.
Con todo, no creo que el British Museum tenga que ser totalmente desmantelado. Pienso que ofrece una maravillosa oportunidad para que hoy en día gente de todas partes del mundo puedan ver todas las piezas que se exponen juntas, y además, por lo general, muy bien cuidadas.
En su libro hay miles de datos, personajes históricos, referencias a libros y anécdotas. ¿Cómo ha abordado la gestión del conocimiento en este libro?
Bueno, como la mayoría de los historiadores de mi generación, soy una persona esencialmente de biblioteca, sobre todo si se eligen temas de estas dimensiones más enfocadas a síntesis que a monografías. Yo me encuentro muy cómodo trabajando en bibliotecas grandes como la de Oxford, Cambridge, Londres, París, la Library of Congress, y la New York Public Library, entre otras. En los últimos diez años más o menos, tal vez un poco menos, he comenzado a utilizar la Wikipedia, especialmente para obtener una primera idea sobre un determinado tema o área de interés y también por la bibliografía.
Pero soy muy cauteloso a la hora de reproducir o tomar algún texto o afirmación, ya sea de la Wikipedia o de la Britannica. Antes de reescribir alguna información chequeo y compruebo la información que reproduzco. Luego, cuando decido lo que quiero escribir o contar, es cuando comienzo a hacer una investigación en mayor profundidad. Wikipedia es ideal para ver las conexiones entre diferentes temas. En una enciclopedia tradicional se presentan por separado y un artículo aparece junto a otro sólo porque comienza con la misma letra del alfabeto. Eso ya no pasa con la Wikipedia.
¿Qué le parece la contribución de los wikipedistas?
Es tan grande el número de gente que colabora en Wikipedia que necesariamente encuentras diferencias en el trabajo que hace cada uno. Esencialmente, lo que me gusta de Wikipedia son dos cosas. En primer lugar, que está en constante revisión y actualización, de una manera que una enciclopedia tradicional en papel nunca podría hacer. Hace unas semanas murió uno de los más grandes historiadores ingleses; no hubo que esperar ni 24 horas y ya estaba puesta la fecha de defunción en Wikipedia. Para esta actualización en la enciclopedia en papel tienes que esperar diez años.
En segundo lugar, me gusta mucho lo que yo llamo las advertencias de ayuda intelectual (the intellectual help warnings) que señalan en el propio artículo si éste es parcial o sesgado, si no tiene suficientes fuentes, o hace falta una verificación de citas, y otras deficiencias. Nuevamente, eso no se puede hacer con una enciclopedia tradicional impresa y los editores de enciclopedias en papel deberían tomar ejemplo. Wikipedia se diferencia de las enciclopedias en papel en que además es más voluminosa, está disponible en más idiomas y está sujeta a constante revisión y reestructuración, en contraste con el desfase temporal que afecta a las ediciones de las tradicionales.
Algunos colaboradores de Wikipedia son cuidadosos, pero otros tienen una desviación muy marcada ya sea política, religiosa, hay un montón de posibilidades… Pero gracias a esos otros wikipedistas vigilantes se reduce el peligro de que dure en la Wikipedia un artículo de mucho sesgo o ideología. El hecho de que la Wikipedia tenga estas advertencias la hace más valiosa que una enciclopedia impresa tradicional, ya sea la Britannica, la Larousse o la Enciclopedia Universal.
A partir del siglo XV, la unión entre sabios humanistas y científicos de distintos puntos del mundo crean un espacio de conocimiento multicultural: la República de las Letras. Hasta entonces, lo que conocía la gente estaba estrechamente relacionado con el lugar donde uno vivía. Poco a poco, gracias a los avances en comunicación, el intercambio de conocimiento empieza a ser muy importante; tanto, que al principio la Bolsa era un lugar de intercambio de información, y no de dinero. El libro recoge la creación y transformación de la República de las Letras, y como ésta transformó los lugares del saber, y por ende, las ciudades y sus habitantes.
¿Cómo es hoy esa República de las Letras?
Ha sufrido una transformación total en el curso de ahora ya cinco siglos, sobre todo debido a los medios de comunicación. Yo la divido en cuatro períodos. La cuarta edad, que es la que vivimos ahora, aparece con la comunicación online, donde es posible un intercambio de mensajes con colegas de diversos países y continentes de forma instantánea, lo cual la hace muy activa. El diálogo entre académicos es más fácil y rápido. Esta comunicación online facilita un intercambio diferente al de las conferencias o el intercambio de papers o libros. Probablemente también tiene un efecto que se me escapa, pero encuentro esta etapa maravillosa.
¿Y dónde encontramos actualmente el pensamiento innovador?
Hoy en día se sigue produciendo innovación intelectual, sobre todo por parte de aquellas personas que pueden ver más allá de su propia disciplina de estudio. Creo que la división del mundo intelectual en disciplinas está bien y se puede hacer muy buen trabajo dentro de la disciplina de cada uno, pero la innovación intelectual la desarrollan aquellas personas que tienen el don de ver más allá de su propia formación hacia otras disciplinas, con las que pueden trabajar incluso de una forma aún más ingeniosa.
Así que, definitivamente, creo en el mundo del sabio o erudito que domina varias disciplinas, lo que llamamos hombres del Renacimiento, aunque es ciertamente más difícil hoy en día debido a la fuerte especialización y a la gran cantidad de información que nos rodea. Se hace cada vez más difícil ser un erudito, es una especie en extinción, pero felizmente todavía no ha desaparecido de la faz de la tierra.
Tenemos buenos ejemplos como Jared Diamond, un hombre de mi edad, que está formado en fisiología y luego se formó en ornitología y ecología, para más tarde interesarse en geografía, antropología y ahora en Historia Comparada, todo esto trabajando en la Universidad de California, en UCLA, que no sólo toleran sus cambios de interés sino que además le asignan una cátedra en diferentes departamentos en el mismo campus. Me parece maravilloso que esto suceda. Algunos de mis colegas historiadores piensan que sus libros son extraños (deeply fool) y que no siempre lo que escribe es del todo adecuado, pero yo creo que su trabajo es un estímulo muy valioso para los historiadores -por ejemplo, el tipo de preguntas que formula sobre el pasado-, y un ejemplo para alentar a otros estudiosos por el camino de la innovación. En general creo interesante la resolución de un problema de una disciplina a través de otra. Aplicar ideas y técnicas de otras disciplinas a una nueva situación.
En su conferencia en el CCCB, Peter Burke explica que el acceso al conocimiento se ha ampliado en los últimos siglos gracias a la difusión de la educación, la democracia y los cambios tecnológicos. Sin embargo, sentirse triunfalista puede llevar a engaño. Sostiene que es más realista ver el acceso al conocimiento como un lugar de conflictos. Tres son las amenazas: la censura por parte de los regímenes autoritarios; la privatización, a través de derechos de autor y la especialización intelectual.

Peter Burke durante su conferencia en Barcelona (foto: CCCB)
¿Cómo definiría esta época que vivimos?
Como la época de la sobrecarga de información. Es poco romántico, lo siento. Pero hoy nos encontramos con una cuestión muy importante, que es el exceso de información. Creo que es necesaria una reforma educativa, sobre todo en los primeros años de la educación de una persona, para enseñar a los ciudadanos a discriminar información y saber elegir entre numerosas y diferentes fuentes de información, porque tendrán que vivir en este mundo de sobrecarga. Las técnicas de gestión de conocimiento y de información se pueden enseñar y tiene que hacerse desde una edad temprana. También tenemos que realizar cambios para introducir perspectivas más globales en los ciudadanos, pero esa es otra cuestión.
En su libro hay referencias a los servicios secretos. Algunos comentarios me han hecho recordar la novela de Javier Marías, Tu rostro mañana.
Me gusta mucho Javier Marías. He leído varias novelas y muchos de sus artículos. Me gustó mucho, mucho esta novela. En Tu rostro mañana me sorprendió encontrar retratos de gente que yo conocí personalmente, como el profesor de Oxford y ex agente secreto Sir Peter Russell (1913-2006) y el profesor español Francisco Rico. Me gustó tanto esta novela -que considero la mejor de la primera década de este siglo- que incluso le dediqué una reseña en una columna de mil palabras que yo solía escribir en el suplemento dominical del diario brasileño Folha de S. Paulo. En el artículo señalo por qué me gustó tanto, en parte por sus técnicas narrativas para dar una ilusión de realidad más fuerte, y también porque Marías encontró en esa novela una nueva forma de hacer filosofía, sobre todo la ética.
¿El profesorado de Cambridge y Oxford sigue siendo importante para los servicios secretos británicos?
Si así fuera no lo sabríamos  -en cuanto se sabe algo, deja de ser útil-. Pero lo cierto es que ha tenido una tradición muy importante en el siglo XX. Muchos en Oxford la llamaban la Spies College, y es por todos conocido que grandes figuras de Oxford y Cambridge han trabajado durante años en el servicio secreto, durante la Segunda Guerra Mundial y la Guerra fría. Supongo que todavía sigue siendo importante, pero no hay que olvidar que también los servicios académicos británicos están activos en otros servicios secretos (in other people’s secret services).
Conocí al historiador de arte Anthony F. Blunt (el “cuarto hombre” de Los Cinco de Cambridge, un grupo de espías que trabajaron para la Unión Soviética durante la Guerra fría y anteriormente a ésta. Blunt trabajó para los servicios secretos soviéticos durante cuatro décadas). Todavía me siento confundido por la conmoción y el horror que causó su desenmascaramiento. Cuando tuvo acceso al servicio secreto Inglaterra era aliada de la Unión Soviética. Y para después de la guerra Blunt ya era director de una institución cultural sin acceso a secretos. Así que el hecho de que aún mantuviera contacto con los rusos es más bien una información pintoresca, pero no creo que tuviera nada interesante que pasarles, en general me parece que se armó un gran revuelo por un asunto de menor importancia.
Mientras nos despedimos, no puedo dejar de pensar en la película El topo (Tinker, tailor, soldier, spy), basada en la novela homónima de John Le Carré, quien se inspiró a su vez en Los Cinco de Cambridge, grupo al que pertenecía Blunt. La cultura británica ha sembrado de exploradores, espías, historiadores y aventureros nuestro imaginario cultural europeo. Antes de decirnos adiós le pregunto a Burke si él cree conveniente para la UK abandonar la Unión Europea. Me contesta que no. Consuela pensar que hay gente como él que aún apuesta por una comunidad de culturas unida.
Berta Ares
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Apunte biográfico de Peter Burke (tomado de la web del CCCB):
(Londres, 1937) es historiador especializado en la historia social y cultural de la primera Edad Moderna en Europa y estudioso de la historia social del conocimiento. Reconocido como uno de los grandes renovadores de la historiografía por el impulso interdisciplinar que dio a la investigación histórica, propició la mediación entre la historia, la antropología y la sociología. Es catedrático emérito de Historia cultural de la Universidad de Cambridge y miembro del Emmanuel College. Ha sido profesor visitante o investigador en numerosas universidades de Europa y América. Es miembro de la Academia Británica y de la Academia Europea, y ha sido distinguido doctor honoris causa por las universidades de Lund, Copenhague y Bucarest.
Ha publicado 26 libros, que han sido traducidos a más de 31 idiomas. Entre ellos destacan Hablar y callar. Funciones sociales del lenguaje a través de la historia (Gedisa, 1996), Formas de hacer historia(Alianza, 1999), El Renacimiento (Crítica, 1999), El Renacimiento europeo. Centros y periferias (Crítica, 2000), Historia social del conocimiento. De Gutenberg a Diderot (Paidós, 2002), Una historia social de los medios de comunicación (Taurus, 2002), Lenguas y comunidades en la Europa moderna (Akal, 2006), La traducción cultural en la Europa moderna (Akal, 2010), Qué es la historia cultural (Paidós, 2010), Hibridismo cultural (Akal, 2010) o, recientemente, Historia social del conocimiento II. De la Enciclopedia a la Wikipedia (Paidós, 2012).

O PODER DA MÚSICA SEGUNDO COLTRANE

"Quero descobrir um método pelo qual, se eu quiser que chova,comece a chover imediatamente. Se um de meus amigos estiver doente, quero tocar uma determinada música e ele sare. Quando ele estiver falido, toco outra canção e ele consegue imediatamente todo o dinheiro de que precisa. Mas que músicas são essas e qual o caminho para passar a conhecê-las, isso eu não sei. Os verdadeiros poderes da música ainda são desconhecidos. Ser capaz de ter controle sobre eles deve ser, creio, o objetivo de todo músico." John Coltrane, entrevista de 1966.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

- John Coltrane - Eric Dolphy:My favourite things...



         My Favourite Things não foi composta por Coltrane, porém ele a imortalizou em suas gravações de estúdio e apresentações. Esta versão com Eric Dolphy na flauta, gravada em  novembro de 1961 (em Baden Baden), é uma das melhores. Imputo a Dolphy e sua flauta, a excepcionalidade desta execução. Os demais na gravação são McCoy Tiner (piano), Reggie Workman (baixo) e Elvin Jones (bateria). Infelizmente o multi-estrumentista Dolphy faleceu precocemente em 1964 (aos 36 anos), devido a uma diabetes não diagnosticada. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Névoa, novamente

      "E seguiram os dois, Augusto e Eugenia, em direções contrárias, cortando com suas almas a emaranhada teia de aranha espiritual da rua. Porque a rua forma um tecido em que se entrecruzam olhares de desejo, de inveja, de desdém, de compaixão, de amor, de ódio, de velhas palavras cujo espírito ficou cristalizado, pensamentos, anseios, toda uma teia misteriosa que envolve a alma dos que passam." Névoa, Unamuno

O fascínio daquilo que é difícil

O fascínio daquilo que é difícil
Seca-me a seiva e arranca-me afinal
A alegria espontânea e natural
Do coração. Maltrata o sacrifício
Nosso potro, sem jeito de sagrado,
De haver no Olimpo as nuvens visitado,
Pois treme, sua e sofre neste ofício
De arrastar pedras. Eu maldigo a peça
Que após cinquenta encenações tropeça,
A briga diária com a asneira e o vício;
Gerência de homens, carga financeira.
Juro que puxo a tranca da porteira
Antes que novo dia tenha início.

W.B. Yeats

Outra faceta de McCullers


       O "Coração é um caçador solitário", romance de Carson McCullers, não é lido sem deixar marcas. Felizmente a editora Novo Século publicou outros livros dela, e num deles, há uma coletânea de poesias da qual retirei a que segue abaixo. 

Sarabanda

Escolhe tuas tristezas se possível;
Edita as ironias, até mesmo finge o luto.
Adapta-se a um mundo dividido
Que exige que tua pura razão incline-se a embustes astutos
O que a alquimia natural concede
Ao miserável garoto de sujos cabelos de mercearia
O resplendor de Apolo, ou o mítico olhar fixo que a Jacinto
se associa.
Se deves atravessar a April Park, sejas ligeiro:
Evita a cadência da noite, olhos ao longe acampados
Para que do risco de segurança não sejas obreiro
Pede apenas o céu estrelado

Teus nervos desesperados fundem alegria e desastre
E confusas risadas, uma vez que começam,
Coroam diversas desordenadas tristezas
Com as quais não poderias, uma por uma, lidar.
O mundo que concorda com tua delicadeza
Enjaula tua luxúria.
Desnorteado pelo paradoxo de toda a tua necessidade
Mudando de horizonte para horizonte, do meio-dia ao sol
que se evade:
Talvez só tu possas compreender:
Numa tarde branda de mar azul e dourado
Quando o céu tem, como um vaso chinês, um suave azulado
Os ossos de Hart Crane, os marinheiros e o homem da botica
Tamborilam a mesma sarabanda no chão do oceano.

Carson McCullers
Coração Hipotecado, p. 342-343