quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"No instante em que nasce, ela é um fenômeno de ruptura. Há uma expressão corrente que nos faz sentir isso de forma viva:´fazer época´não significa intervir passivamente na cronologia, mas precipitar o momento." Henri Focillon, Vie des formes. Paris, 1934, p. 94

As experiências de George Orwell no internato São Cipriano

"(...) Tomemos a religião, por exemplo. Eu deveria amar a Deus e não questionar isso. Até por volta dos catorze anos, eu acreditava em Deus e que os relatos feitos sobre ele eram verdadeiros. Mas tinha plena consciências de que não o amava. Ao contrário, o odiava, assim como odiava Jesus e os patriarcas hebreus. Se eu tinha algum sentimento de simpatia por algum personagem do Velho Testamento, era por pessoas com Caim, Jezebel, Aman, Agag, Sisara; no Novo Testamento, Pôncio Pilatos. Mas toda a coisa da religião me parecia salpicada de impossibilidades psicológicas. O livro de Orações, por exemplo, mandava amar a Deus e temê-lo: mas como se podia amar alguém que se temia? Com os sentimentos privados era a mesma coisa. O que se devia sentir estava geralmente claro, mas a emoção apropriada não podia ser imposta. Era óbvio que meu dever era me sentir grato em relação a Flip e Sambo, mas eu não tinha esse sentimento. Também estava claro que devíamos amar nosso pais, mas eu sabia muito bem que não gostava de meu pai, que eu mal havia visto antes dos oito anos e que me parecia apenas um velho de voz rouca dizendo sempre ´não´. Eu queria possuir as qualidades certas e sentir as emoções certas, mas não conseguia. O bom e o possível nunca pareciam coincidir." George Orwell, "Tamanhas eram as alegrias", p.290-291.


"...Todos os que passaram dos trinta anos são uma gente grotesca e infeliz, eternamente preocupada com ninharias e que, tanto quanto a criança pode ver, permanece viva sem ter motivo para viver. Só a vida da criança é vida verdadeira. O diretor de escola que imagina que é amado e desfruta da confiança de seus alunos é, na verdade, arremedado e objeto de riso pelas costas. Um adulto que não pareceperigoso quase sempre parece ridículo..." George Orwell

"...A criança e o adulto vivem em mundos diferentes. Se é assim, não podemos ter certeza de que a escola, ao menos os internatos, deixou de ser, para muitas crianças, a experiência terrível que costumava ser. Tirem-se Deus, o latim, a vara, as distinções de classe e os tabus sexuais, e o medo, o ódio, o esnobismo e o mal-entendido talvez ainda estejam todos lá. ..." George Orwell

Livros...

"...De fato, toda paixão confina com um caos, mas a de colecionador com o das lembranças. Contudo, direi mais ainda: o acaso e o destino que tingem o passado diante de meus olhos se evidenciam simultaneamente na desordem habitual desses livros..." Walter Benjamin