quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Alfred Brendel - Liszt: Années de Pèlerinage - Deuxième Année: Italie
domingo, 13 de novembro de 2011
Humanismo e terror na visão de George Steiner
A cultura humanística apresenta-se como um antídoto para a barbárie, trata-se de um intelectualismo que não percebe que as sementes da violência estão presentes no ser. Como bem observa George Steiner, as experiências da primeira metade do século XX demonstram que o humanismo é frágil frente às disputas pelo poder.
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“[...] Não posso aceitar o fácil consolo de que essa catástrofe foi um fenômeno puramente alemão, ou um nefasto acaso, com raízes na personagem de um ou outro governante totalitário. Dez anos depois de a Gestapo retirar-se de Paris, os compatriotas de Voltaire torturavam argelinos e uns aos outros nos mesmos porões das delegacias. A morada do humanismo clássico, o sonho da razão que inspirou a sociedade ocidental, havia em grande parte ruído. Idéias de desenvolvimento cultural e de racionalidade inata, aceitas desde a antiga Grécia e ainda de expressiva validade no historicismo utópico de Marx e no autoritarismo estóico de Freud (ambos suplantadores tardios da civilização greco-romana), não podem mais ser sustentadas com muita segurança. A capacidade do homem tecnológico, como ser suscetível ao controle do ódio político e da insinuação sádica, estendeu-se espantosamente rumo à destruição.”STEINER, GEORGE. Linguagem e silêncio, pág. 15.
“[...] O grau máximo da barbárie política desenvolveu-se no cerne da Europa. Dois séculos após Voltaire ter proclamado seu fim, a tortura volta a tornar-se um processo normal de ação política. Não apenas a difusão geral de valores literários e culturais demonstrou não ser obstáculo ao totalitarismo, como também, em alguns casos que se puderam observar, os altos círculos do saber e da arte humanísticos de fato acolheram e ajudaram o novo terror. A barbárie predominou no próprio berço do humanismo cristão, da cultura renascentista e do racionalismo clássico. Sabemos que alguns homens que conceberam e administraram Auschwitz foram educados lendo Shakespeare ou Goethe, e continuavam a lê-los.” STEINER, GEORGE. Linguagem e silêncio, pág. 23.
Ingleses decepcionados
LOUCURA
Thomas Bernhard
"Cultura do Narcisismo" (1979) de Christopher Lasch
MELHOR AINDA É O TÍTULO DO CAPÍTULO "A EDUCAÇÃO ESCOLAR E O NOVO ANALFABETISMO"
Arendt sobre os amigos que levamos para os outros
Episódio vivido pelo velho Bob D.
Julho de 2009
domingo, 13 de fevereiro de 2011
MILTON SOBRE EXCEÇÕES OU COMPORTAMENTOS PADRÕES?
As sábias palavras de Milton que serão transcritas abaixo, talvez foram proferidas para exortar comportamentos desviantes da norma. Penso que sim, porém diante da realidade que vivemos hoje, observando evangélicos - pentecostais ou neopentecostais - percebemos o quanto às palavras de Milton exortariam a maioria dos religiosos.
Max Weber pode ter constatado o quanto a ética religiosa protestante orientou a vida cotidiana dos fiéis no início da modernidade ocidental. Porém, se analisarmos hoje, o quanto a vida cotidiana dos fiéis é orientada eticamente ficaremos pasmos, aliás, a ética dos fiéis se assemelha a ética dos seus guias espirituais.
John Milton foi um dos principais escritores ingleses do século XVII. Como poeta nos legou o clássico, O Paraíso Perdido. Também foi teólogo e político. O trecho que reproduzido abaixo foi retirado do livro: Areopagítica, Discurso pela liberdade de imprensa ao parlamento da Inglaterra. Editado no Brasil pela Topbooks com tradução bilíngüe de Raul de Sá Barbosa, 1999.
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“(...) Um homem rico, apegado a seus prazeres e a seus lucros, vê a religião como um tráfico tão emaranhado e de contas tão pormenorizadas que, de todos os segredos do negócio, ele não consegue recompor a contento o seu estoque. Que fazer? Agrada-lhe a fama de ser homem piedoso e temente a Deus, agrada-lhe igualar-se, nesse particular, aos seus vizinhos. Em conseqüência, desiste de trabalhar e procura encontrar alguém a quem possa entregar o governo da sua vida religiosa. Um clérigo de fama é o ideal. A essa figura ele adere, entrega-lhe toda a parafernália da sua religião, com as chaves de todas as fechaduras e cadeados. A rigor, ele faz dessa pessoa a sua religião. Entende que a simples associação com ela é prova cabal e suficiente da própria piedade. Assim, esse homem poderá dizer que sua religião já não está no seu íntimo, mas tornou-se como que um bem móvel, dotado da faculdade de ir e vir perto dele, ao sabor das visitas do santo, que lhe freqüenta a casa. Ele o recebe, festeja-o, presenteia-o, hospeda-o. Sua religião volta para casa à noite, reza, ceia lautamente, e é posta para dormir. De manhã, levanta-se, é saudada e prova da malvasia que lhe oferecem, ou toma alguma beberagem aromatizada. Fica melhor alimentado do que aquele cujo apetite se daria por satisfeito se comesse alguns figos verdes entre Betânia e Jerusalém. Sua religião sai às oito horas e deixa seu amável anfitrião na loja, negociando o dia todo sem sua religião.” (páginas 143-145)