Nas últimas páginas do livro, Os últimos dias da humanidade, Karl Kraus dá voz ao lamento dos derrotados na 1ª Grande Guerra.
AS MULHERES DO EXÉRCITO
Prostitutas militares,Mobilizadas rameiras,
Voltemos a nossos lares,
Regimento de fuleiras.
Aos heróis sacrificadas,
Contagiadas pela bravura,
De bochechas bem rosadas,
E uma sífilis sem cura.
Sangue, vinho, sêmen, choro
Corriam na bacanal.
O que recebemos do namoro
Levamos para o hospital.
Hoje nos veem com nojo:
Tão magras que cai a farda,
Levamos nosso despojo
Lá longe na retaguarda.
Crescemos em decênios!
Um vendaval há de vir;
E, nesse terrível milênio,
A humanidade extinguir!
O FILHO QUE NÃO NASCEU:
Nós, testemunhas tardias da podridão,
Pedimos-lhes para não nascer:
Por ser vergonha a traição,
Não nos deixem aparecer!
Pais heróis não querer:
Antes sem glória viver!
Dor e gozo nesta terra!
Por herança o mal venéreo
Por herança o mal venéreo
Legou-me o pai, o animal.
Assim, ao reino não vamos!
Filhos de cadáver somos.
Filhos de cadáver somos.
E aqui o ar cheira mal.
Karl Kraus, Os últimos dias da humanidade. Trad. Mariana Ribeiro de Souza. Ed. Balão Editorial. págs. 311-312