segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Fux, aquele que esta surfando na "eterna" onda brasileira

          "Olha que os homens, valem  por diferentes modos, e que o mais seguro de todos  é valer  pela opinião dos outros homens. Não estragues  as vantagens  de tua posição, os teus meios" Conselho do pai de Brás Cubas. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis


             Eis que no horizonte o zé povinho vê uma onda, gigante e sem proporções. Todos enxergam a mudança, mas no dia a dia a estrutura permanece a mesma, a onda não trará mudanças, chegará como marola, aliás palavra preferida de alguns. Eis o que chegará, uma marola. 
        Roberto Schwarz escreveu um vigoroso ensaio sobre a nossa prática do favor. Procurou relacionar a nossa estrutura escravista à forma como assimilamos o ideário burguês, e o seu corolário liberal. "As ideias fora do lugar" é o título do ensaio, e mesmo tratando do século XIX, as características sociais analisadas no mesmo, permanecem atuais quando vemos se repetirem o clientelismo e a política do favor, no caso da filha de Fux."... O mesmo se passa no plano das instituições, por exemplo com burocracia e justiça, que, embora regidas pelo clientelismo, proclamavam as formas e teorias do estado burguês moderno."  Roberto Schwarz, As ideias fora do lugar, pág. 52
             Se alguns veem mudanças no horizonte, se as desejam, trata-se apenas do nome fantasia, pois a estrutura permanecerá a mesma,  permitindo a continuidade da prática exemplificada pelas ações de Luiz Fux.






segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Belo depoimento

          Aos 80 anos, a historiadora, Maria Yedda Leite Linhares, concedeu uma longa entrevista que consta no livro, Conversas com Historiadores Brasileiros (Ed. 34). No final da entrevista, ela nos brinda com este belo relato de suas atividades naquele momento, 2001.

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"...Como professora emérita da UFRJ, continuo em exercício, participando em cursos, seminários, bancas etc., e cuido de mim: ando muito, faço bicicleta, hidroterapia, RPG, cuido dos gatos e da casa, e adoro cozinha. Continuo lendo meu Dante Alighieri, e, vez por outra, releio um conto de Joyce. Continuo adorando cinema e música, quanto mais moderna melhor, relembrando minha infância cearense, minha paisagem nordestina, rezando e torcendo pela grande mudança que um dia virá, num futuro sem vítimas da fome, num Brasil sem latifundiários." (pág. 43)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Verbetes interessantes para o período eleitoral brasileiro

            Em período eleitoral é bom refletir sobre alguns termos usados pelos candidatos (as). Então, visando contribuir com os nossos eleitores que acreditam que podem mudar alguma coisa na ordem estabelecida, disponibilizo alguns verbetes do “Dicionário do Diabo”, de Ambrose Bierce. Não estranhe alguns verbetes passarem pela religião. Trata-se de uma escolha deliberada, pois nestas eleições, a religião tornou-se elemento fundamental no discurso de alguns (mas) candidatos (as).

OBS.: AVISO AOS CRISTÃOS INDIGNADOS. Os cristãos mais indignados com o comportamento alheio, são os que menos leem, e que sustentam suas opiniões com base nas falácias de outros, mais ignorantes ainda, ministros religiosos. Para estes, deixarei aqui alguns links, tanto para informação sobre quem foi Ambrose Bierce, e o que significa a palavra sarcasmo.




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CANDIDATO – Cavalheiro modesto que foge à distinção da vida privada e busca diligentemente a honrosa obscuridade do cargo público.
CLÉRIGO – Homem que se dedica a cuidar dos nossos interesses espirituais, como meio de melhorar os seus materiais.
COMPROMISSO – ajuste de interesses conflitantes, para dar a cada adversário a satisfação de pensar que obteve aquilo a que não tinha direito e que nada perdeu exceto o que realmente devia.
CONSERVADOR – Estadista enamorado dos males existentes, distinto do liberal, que deseja substituí-lo por outros.
CRISTÃO – Alguém que segue os ensinamentos do Cristo, desde que não inconsistentes com uma vida de pecado.
ELEITOR – Alguém que goza do sagrado privilégio de votar num homem escolhido por outro.
ESCRITURAS – Os Livros Sagrados da nossa santa religião, distintos dos escritos falsos e profanos em que se baseiam  todas as demais religiões.
EXORTAR – Em assuntos religiosos, pôr a consciência de outrem na grelha e tostá-la até ficar incomodamente queimada.
FANÁTICO – Alguém obstinadamente preso a uma opinião que não é a nossa.
– Crença sem fundamento no que é contado por alguém que fala sem conhecimento sobre coisas sem paralelo.
IDIOTA – Membro de uma grande e poderosa tribo cuja influência nos assuntos humanos sempre foi dominante e controladora.
               - A atividade do idiota não se confina a qualquer área especial de pensamento ou ação, mas impregna e regula todo o conjunto. Tem ele a última palavra em tudo, e sua decisão é inapelável. Fixa os modelos de opinião e o gosto, dita os limites de palavra e circunscreve a conduta com uma linha-limite.
IMPUNIDADE – Riqueza.
JUSTIÇA – Produto que, em condição mais ou menos adulterada, o Estado vende ao cidadão como prêmio à sua fidelidade, aos impostos que paga e aos serviços postais que presta.
LADRÃO – Um homem de negócios sincero.
LIBERDADE – Um dos mais preciosos bens da imaginação.
MÃO – Singular instrumento usado na extremidade do braço humano e comumente metido no bolso dos outros.
MATAR – Criar vaga sem nomear sucessor.
MORAL – Que tem a qualidade da conveniência geral. Conforme a um padrão de direito local e mutável.
NEPOTISMO – Nomear a avó para um cargo, pelo bem do Partido.
ORAR – Pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um peticionário isolado confessadamente imerecedor.
ORATÓRIA – Conspiração entre a palavra e a ação para ludibriar o entendimento;
                - Uma tirania moderada pela estenografia.
PATRIOTA – Alguém pra quem os interesses de uma parte parecem superiores aos do todo. É o trouxa dos estadistas e a ferramenta dos conquistadores.
PATRIOTISMO – Lixo combustível pronto para que a tocha de qualquer ambicioso lhe ilumine o nome.
PERORAÇÃO – A explosão de um foguete oratório. Tonteia, mas para o observador que não tem o tipo adequado de nariz, sua mais notória peculiaridade é o cheiro das várias qualidades de pólvora usadas em seu preparo.
PLENÁRIO – Em política, ratoeira imaginária onde o estadista luta contra os anais.
POLÍTICA – Conflito de interesses disfarçado em debate de princípios.
                - A condução dos negócios públicos para o benefício particular.
POLÍTICO – Uma enguia na lama fundamental sobre que se ergue a superestrutura da sociedade organizada. Quando ele se vira, confunde a agitação da cauda com o tremor do edifício. Comparado com o estadista, sofre a desvantagem de estar vivo.
PRESIDÊNCIA – O leitão escorregadio, no jogo roceiro da política americana.
PRESIDENTE – A principal figura num pequeno grupo de homens sobre os quais – e sobre eles somente – se sabe positivamente que números imensos de seus compatriotas não querem nenhum para a presidência.
PROPRIEDADE – Qualquer coisa material, sem nenhum valor especial, que possa pertencer a A para despertar a cobiça de B.
                - Qualquer coisa que satisfaça a paixão de possuir de um e a desaponte em todos os outros.
                - Objeto da breve rapacidade e da longa indiferença humana.
RECONTAGEM – Na política americana, tornar a jogar os dados, segundo jogador contra o qual estão chumbados.
REFORMA – Coisa que muito satisfaz aos reformadores que se opõem à reformação.
RESPEITABILIDADE – Filha da união entre uma careca e uma conta bancária.
SANTO – Um pecador revisto e corrigido.
SENADO – Corporação de cavalheiros idosos, incumbida de altos deveres e deslizes.
VEREADOR – Criminoso astuto, que encobre seu furto secreto sob o disfarce da pilhagem aberta.
VOTO – Instrumento  e símbolo do poder do homem livre de fazer de si um tolo e do país uma ruína.

OBS.: todos os verbetes foram retirados do texto, “Dicionário do Diabo”, presente na coletânea, “Fábulas Fantásticas” (Editora artenova, 1973), de Ambrose Bierce.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Fanáticos são os outros

           Sobre a fraternidade entre os religiosos cristãos, penso que vale para todos os religiosos, inclusive os não cristãos, "eles são ecumênicos apenas quando tem um inimigo em comum".
          Ou como disse Ambrose Bierce, no verbete "fanático" do seu, "Dicionário do Diabo":
            "Fanático - alguém obstinadamente preso a uma opinião que não é a nossa" (Ambrose Bierce, Diocionário do Diabo, artenova, 1973, pág. 104)
             Ou melhor:
             "Escrituras - Os Livros Sagrados da nossa santa religião, distintos dos escritos falsos e profanos em que se baseiam todas as demais crenças" (Ambrose Bierce, Diocionário do Diabo, artenova, 1973, pág. 102)

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Edição do dia 31/08/2014
31/08/2014 21h55 - Atualizado em 01/09/2014 18h05

Mistério das igrejas incendiadas assusta moradores do interior de MG

Desde março, criminosos colocam fogo em capelas durante a noite.
Na frente de cada igreja queimada, bandidos deixam uma cruz de sal grosso.

Mistério em Minas Gerais. Uma série de crimes religiosos está desafiando a polícia e assustando a população. De março até agora, sete igrejas católicas foram incendiadas. Os bandidos também quebram as imagens dos santos e deixam uma assinatura: uma cruz de sal grosso.
As noites no interior de Minas Gerais escondem um mistério. Os bandidos agem na madrugada. Eles se aproveitam de um costume dos moradores da zona rural: quando anoitece, todo mundo se recolhe. Ninguém na estrada, nem luz.

Os criminosos estão colocando fogo em capelas. Quando amanhece, é possível ver a destruição.
E um fato chama a atenção: em frente a cada igreja queimada, é deixada uma cruz de sal grosso.
“Mistério assim do mal, né? Eu acredito”, diz o lavrador Xisto Romualdo.
Os ataques religiosos começaram em março. Até agora, sete capelas foram incendiadas em quatro cidades. Elas ficam a cerca de 250 quilômetros de Belo Horizonte.

A localização das igrejinhas facilita a ação dos bandidos. Todas estão em áreas isoladas.
A capela de Macuco foi incendiada no começo de agosto. Os bandidos usaram uma mesa como apoio para entrar pela janela. Restaram apenas as paredes.
 
“Nós usava a capela assim pra assistir missa, catequese, consultório médico também. Tudo de bom que tinha na comunidade era aqui”, lamenta Tereza Gerônimo, coordenadora do Conselho Comunitário Pastoral de Macuco.
Seu José lamenta a destruição da igreja que ajudou a construir.

Fantástico: Quem o senhor acha que fez isso?
José Sabino Figueiredo: Gente não pode ser não. Gente batizada não faz um papel desses.
Na mesma noite, uma hora depois, a poucos quilômetros da comunidade de Macuco, outra capela foi incendiada. No povoado de Quatro Barras também foi deixada uma cruz de sal.
“Não estou dormindo de noite. Estou muito preocupada ainda com o que eu vi que nunca tinha visto: o santuário nosso, de nós rezar todo domingo, dia de semana nós reza também, pegando fogo sem a gente poder salvar”, lamenta a catequista Maria da Glória Batista.
A capela tinha sete imagens de santos. Sobrou apenas uma, de Nossa Senhora Aparecida. Durante o incêndio, a mesa onde ela estava apoiada foi quase toda queimada, sobrou apenas um cantinho onde a imagem estava.

“Sobrou uma imagem pra comunidade firmar mais e acreditar na Nossa Senhora”, diz a dona de casa Maria Rita Santos.
A polícia investiga os ataques às igrejas e suspeita que sejam casos de intolerância religiosa.

“Por conta do incêndio, não há como colher digitais. Aproveitar para fazer um apelo, se alguém tiver informação, que traga até nós pra que sejam tomadas as medidas cabíveis”, pede o delegado Edvin Otto.

Em Senador Firmino, o alvo foi a capela da Comunidade de Guaxupé. O prédio resistiu ao fogo, mas os criminosos deixaram outras marcas. Do lado de fora da capela estão os restos das imagens em um saco.

Os incêndios misteriosos mudaram a rotina no campo. As capelas agora vivem trancadas. E os moradores, têm que conviver com o medo.
Para Pedro Ribeiro, doutor em ciências da religião, historicamente a cruz de sal grosso e o fogo são sinais de purificação.
“Fazer uma cruz de sal junto de alguma capela, junto a um espaço qualquer, significa ‘vamos purificar’, ‘vamos afastar os maus espíritos que estavam aqui’. O que é intrigante pra mim: quem acha que em uma capelinha, em que as pessoas se reúnem para rezar, para celebrar, que aquilo dali é uma coisa má, é uma coisa de espírito mau?”, questiona o doutor.
Ele diz que a destruição das igrejas pode significar uma agressão do catolicismo.
“São sinais de dizer: ‘quem faz aquilo que meu Deus proíbe está errado e, portanto, eu tenho que punir’. Ora, isso é intolerância. Isso vai contra todo pensamento da tolerância religiosa, da aceitação do diferente, do sadio diálogo entre as religiões”, diz Pedro Ribeiro.

Pérola do sábado

             Sempre visito uma revistaria, aqui próximo a minha casa. No caixa geralmente encontro o mesmo rapaz, jovem e gay. Então, no sábado peguei uma revista semanal, na qual a presidenciável Marina Silva estava em destaque. O rapaz ao me ver com a revista, comentou: "nossa, a candidata deveria ser a Rachel Sheherazade". Pensei, "só pode ser brincadeira". Não satisfeito, o rapaz emendou, "ela parece ter a mente aberta." Paguei, e segui o meu caminho pensando, "é melhor ser um avestruz".