domingo, 14 de outubro de 2018

           Diálogo ficcional elaborado há 83 anos por um escritor estadunidense, prêmio Nobel de literatura. Aliás, o primeiro estadunidense a recebê-lo, Sinclair Lewis. Vou postar apenas uma parte, mas que exemplifica a convicção do tolo mal informado que insiste vaticinar algo sem ao menos ter ideia do que está falando.

           "'Bom, e se estiverem?', protestou R. C. Crowley. ´Talvez não seja tão mal. Não aprecio todos esses ataques irresponsáveis contra nós, banqueiros, o tempo todo. Claro que o senador Windrip tem  de fingir em público que está recriminando os bancos, mas uma vez que chegue ao poder vai proporcionar aos bancos sua justa influência no governo e acatar nossos hábeis conselhos financeiros. Isso mesmo.  Por que tem tanto medo da palavra ´fascismo´, Doremus? É só uma palavra - só uma palavra! E talvez não seja tão má, com todos esses vagabundos  preguiçosos que vemos esmolando assistência hoje em dia e vivendo do imposto de renda meu e seu - não muito pior do que ter um genuíno Homem Forte, como Hitler ou Mussolini - como Napoleão ou Bismarck nos bons e velhos tempos - e tê-los de fato a dirigir o país e fazer dele eficiente e próspero outra vez. Em outras palavras, ter um médico que não ature boca dura e sim mande no paciente e o faça se curar, quer ele queira, quer não!"
        "Isso", disse Emil Staubmeyer, ´Hitler não salvou a Alemanha da Peste Vermelha do Marxismo? Tenho primos por lá. Eu sei!´"
          "Hum", disse Doremus, como Doremus de fato costumava dizer. ´Curar os males da Democracia com os males do Fascismo! Terapia mais esquisita. Já ouvi falar de curar sífilis deixando o paciente com malária, mas nunca ouvi falar de curar malária deixando o paciente com sífilis!" Sinclair Lewis. Não vai acontecer aqui. p. 25


sexta-feira, 12 de outubro de 2018

          Talvez agora, penso ser difícil, não somente que brasileiros, mas também que estrangeiros reflitam sobre esse mito de que o Brasil é uma sociedade pacificada e irmanada, sem racismo. Aqui um exemplo recente de uma visão idílica do Brasil, por um Prêmio Nobel que respeito.

"Ele ansiava por um dia em que todo mundo na África do Sul não se chamasse de nada, nem de africano, nem de europeu, nem de branco, nem de negro, nem de nada, em que as histórias familiares estivessem tão emaranhadas e misturadas que as pessoas fossem etnicamente indistinguíveis, ou seja - pronuncio de novo essa palavra maldita - de cor. Ele chamava isso de futuro brasileiro. Ele aprovava o Brasil e os brasileiros. Claro que nunca tinha estado no Brasil." Verão, Coetzee. p. 241