domingo, 3 de maio de 2020

EXPERTS EM SOBREVIVÊNCIA E O DESERTO MENTAL EM QUE VIVEMOS


       Quantos de nós já ouviram a frase,"que se danem, o que importa o sofrimento dos outros". Assim, o que importa é como me viro com os problemas que tenho. O outro destruído tornou-se o restolho desimportante daqueles poucos que tem sucesso. O último ano confirmou este tipo de discurso entre os brasileiros: do que vale o SUS, a Educação Pública, a Previdência, o trabalho com garantias sociais, etc... Este pensamento "bárbaro" esta historicamente atualizado, e a cada atualização, os efeitos são piores, o sinal de alerta foi dado desde o início do século XX, e constantemente acionado. Eis aqui um diagnóstico do início da primeira década do século XXI, que se confirmou com o passar dos anos no Brasil.
"...A anulação mental induzida pela privatização do trabalho atroz, como alguns autores franceses chamam a coisa, vem a ser o reverso de uma tolerância crescente com o intolerável - no caso, a injustiça abissal na sociedade polarizada de hoje. Algo como uma reação defensiva igualmente cruel ante o sofrimento que se é obrigado a infligir a si mesmo e aos outros, os que se vêem passar nas levas sucessivas de precarizados e enxotados, pelo Sistema, é claro, como nos falsos juízos de atribuição que acompanham este encasulamento no medo. É neste momento que se dá a esterilização da faculdade de pensar e prospera o cálculo dos experts em sobrevivência, deserto mental onde cresce apenas a crueldade social que caracteriza todo eclipse da reflexão..." Zero à esquerda. Paulo Eduardo Arantes. ("Apagão", ensaio de 2001).

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