sexta-feira, 18 de março de 2016

O impagável Capistrano de Abreu! !!


"Como sei que ninguém é capaz de salvar ou deitar a perder o Brasil, finjo que o caso não é comigo e vou andando por aí fora de longada. "
"Não se pode imaginar cousa mais desprovida de inteligência e previsão, mas há quase cem anos José Bonifácio escreveu: no Brasil o real vai além do possível. "

"Consolo-me, pensando que tudo iria pior, se tivéssemos o parlamentarismo. Isto não indica preferência pelo presidencialismo. Nenhum método de governo pode servir, tratando-se de povo visceralmente corrupto como o nosso". Carta a João Lúcio de Azevedo
Sobre o futebol
“Nunca assisti a uma partida, não posso fazer ideia de como é, e os termos técnicos soam-me aos ouvidos como a mais arrevesada das gírias; mas enquanto tudo for independente de socorros federais ou municipais, contará com minhas simpatias incondicionais o jogo de football”. Carta de 19-05-1919

Nada como consultar um dos sábios nacionais, Lima Barreto.

Nada como consultar um dos sábios nacionais, cujos textos nunca caducam!!!
Dissidências
(Careta /5-1-1924)
Este caso de candidaturas que quase empolgou a opinião pública, acabou comicamente num desfecho de malandragem que tudo fazia esperar. Quem conhece os personagens que nele andaram metidos, bem sabia que tal coisa havia de acontecer. Não os movia nada de sério, nem qualquer ideal alimentava a campanha deles.
O que eles queriam, ou que eles querem, são os proventos que os altos cargos dão e, sobretudo, as vantagens que eles trazem à margem.
Seja, Bernardes, seja Vertenza, associados a quaisquer deles a ´filadelfos´ de toda a ordem, o certo é que nenhum deles quer o bem público, nem mesmo o dos seus asseclas.
O escopo deles é arranjarem-se e mais as famílias.
A tal história de ´reação republicana´ começou com tal ímpeto que parecia ser mesmo um movimento de opinião dirigida com sinceridade por homens de valor e responsabilidade, contra politiqueiros obscuros, cuja única noção de política fosse aquela que se adquire nas lutas eleitorais da roça, onde predominam o assassinato, a compressão e a fraude.
Entretanto, assim não foi. No momento agudo, quando todos esperavam que tais homens levassem a luta até ao último, todos eles, sob este ou aquele pretexto, fugiram dela, deixando os seus adeptos ´a ver navios´.
Ora, bolas! Chefes que tais não merecem confiança. É consagrado que o comandante do navio, em caso de naufrágio, seja o último a deixar o barco; entretanto os comandantes da barcaça da dissidência não fizerem isso. Foram os primeiros a fugir.
Onde está o combate? Onde está a luta?
Está aí, em que consiste a política no Brasil; Bernardes briga com Vertenza, soltam ambos belas palavras, pelos seus jornais e pelos seus oradores, os bobos tomam partido, levam chanfalhadas da polícia, vão para o xadrez e.. os chefes embarcam para a Europa. Viva a política!
Lima Barreto
Segue um trecho de uma das crônicas de Machado de Assis, um diálogo...
“- Ó palerma, eles conhecem-te; procura-os. Quando o filhinho de algum vier à sala, pega nele, assenta-o na perna; se o menino meter o dedo no nariz, acha-lhe graça. E pergunta ao pai como pai como vai a senhora; afirma que tens estado para lá ir, mas as bronquites são tantas em casa... Elogia-lhe as bambinelas. Não ofereças charuto, que pode parecer corrupção; mas aceita-lhe o que ele te der. Se for quebra-queixo, pergunta-lhe interessado onde é que os compra.
- Já se vê, em cada casa a mesma cantilena. Uma só música, embora com palavras diversas. O eleitor pode ser um ruim poeta...
- Justamente; leva-lhe decorado o último soneto, um primor.
- Compreendi tudo. Definição é que nada, visto que são meus amigos. Compreendi tudo. Posso oferecer a minha gratidão?
- Podes; toda a questão é ir ao encontro do sentimento do eleitor, isto é, que ele te faz um favor votando; não escolhe um representante dos seus interesses. Anda, vai-te embora e volta-me deputado.” Crônica de 13 de agosto de 1889