quarta-feira, 31 de julho de 2013

Bispos preocupados com educação do povo, pedindo a cabeça de Anísio Teixeira em 1958. E olhem, Anísio Teixeira queria apenas a ampliação do ensino público no país.

"Memorial dos bispos gaúchos ao Presidente da República sôbre a Escola Pública única."

Orwell e o ensino de História na sua época


             De George Orwell é delicioso, sobre vários aspectos, ler os relatos de suas experiências juvenis ou "reportagens de campo". No trecho abaixo, ele nos dá a exata medida do que era o ensino de História nas escolas inglesas, o qual depois de muitas décadas ainda persiste na prática de algumas escolas e professores, aqui no Brasil, provavelmente, também naquelas terras ao norte. É importante destacar o tom de reprovação de Orwell ao modelo "factual-decoreba", as suas observações irônicas. Não nego a necessidade do professor-historiador ater-se a dimensão cronológica, mas inculcar isto em crianças e adolescentes é perda de tempo.

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"Naquela época, havia uma cosia absurda chamada Prêmio de História Harrow, uma competição anual da qual participavam muitas escolas preparatórias. Era uma tradição da São Cipriano vencer todos os anos, e não era para menos, pois havíamos estudado com afinco todas as provas propostas pela competição desde seu início, e o suprimento de questões possíveis não era inexaurível. Eram o tipo de pergunta que se responde repetindo rapidamente um nome ou uma citação. Quem saqueou as begumes? Quem foi decapitado num barco aberto? Quem pegou os whigs se banhando e levou embora suas roupas? Quase todo o nosso ensino de história era desse nível. A história era uma série de fatos sem relação entre si, ininteligíveis, mas importantes - de algum modo que jamais nos era explicado - , com frases retumbantes amarradas a eles. Disraeli trouxe paz com honra. Hastings ficou espantado com sua moderação. Pitt chamou o Novo Mundo para corrigir o equilíbrio do Velho. E as datas, e os estratagemas mnemônicos!(Você sabia, por exemplo, que as letras iniciais de " A black Negress was my aunt: there´s her house behind the barn" são também as letras iniciais das batalhas da Guerra das Rosas?) Flip, que "tomava" as formas mais altas de história, deliciava-se com esse tipo de coisa. Lembro-me de verdadeiras orgias de datas, com os meninos mais afiados saltando em seus lugares, ávidos por gritar as respostas certas e, ao mesmo tempo, não sentindo o menor interesse pelo significado dos misteriosos eventos que citavam.
"1587?"
"Massacre de São Bartolomeu!"
"1707?"
"Morte de Aurangzeeb?"
"1713?"
"Tratado de Utrecht!"
"1773?"
"Festa do Chá de Boston!"
"1520?"
"Ó, Mum, por favor, Mum..."
"Por favor, Mum, por favor, Mum! Deixe-me dizer, Mum!"
"Muito bem!1520?"
"Campo do Pano de Ouro!"
E assim por diante."
Orwell,"Tamanhas eram as alegrias" (Como morrem os pobres e outros ensaios), p.259-260.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Uma das pessoas que me entrevistaram ontem me perguntou no final:'Que espera, professor?´ Eu respondi:'Não tenho nenhuma esperança. Como leigo, vivo em um mundo que desconhece a dimensão da esperança.´Sim, a esperança é uma virtude teológica. Quando Kant afirma que um dos três grandes problemas da filosofia é 'que devo esperar?' refere-se, com tal pergunta, ao problema religioso. As virtudes do leigo são outras: o rigor crítico, a dúvida sistemática, a moderação, a não-prevaricação, a tolerância, o respeito pelas ideias alheias; virtudes mundanas e civis." Norberto Bobbio

O chapéu e o drama de Lester Young