No conto, Cambrino, Aleksandr Ivánovitch Kuprin relata em uma passagem muito pertinente como aquele que na multidão dos que estão encolerizados, pode ser usado para os fins mais odientos e irracionais. O conto trata de uma cervejaria e de seu ilustre músico judeu, Sachka, que foi perseguido de várias formas e em diferentes momentos, inclusive nos pogroms ocorridos durante o czarismo. Principalmente o de 1907, é bom enfatizar que Kuprin foi jornalista, e realmente conheceu um músico de características semelhantes.
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"Aquando dos pogroms, Sachka andava livremente pelas ruas, com a sua cara engraçada de macaco, bem judia. Não buliam com ele. Tinha uma bravura inabalável de espírito, o destemor do temor, que protege até os fracos melhor do que quaisquer Brownings. Mas uma vez, quando, apertado à parede de um prédio, se desviou de uma multidão, que fluía qual furacão, um pedreiro, de camisa vermelha e avental branco, brandiu o escopro sobre ele e pôs-se a rugir:
- Ju-deu!Batei neste judeu! Arrancai o seu san-n-gue!
Mas alguém lhe segurou o braço por trás.
- Pára, diabo. Este é o Sachka. Deixa-o em paz, seu filho de uma rameira imunda...
- O pedreiro deteve-se. Naquele absurdo instante de loucura e embriaguez estava disposto a matar quem quer que fosse - o pai, a irmã, o padre, e até o deus mais ortodoxo -, mas também estava disposto a obedecer a qualquer vontade firme.
Deu um sorriso largo, como um idiota, cuspiu e limpou o nariz com as costas de uma mão. De repente, porém, os seus olhos caíram sobre um cãozinho branco e agitado, que, a tremer, se esfregava na parede, ao pé Sachka. Agachando-se agilmente, ele o agarrou pelas pernas traseiras, levantou-o alto, bateu-lhe com a cabeça na laje da calçada e saiu a correr. Sachka olhou para ele em silêncio. O homem corria inclinado para a frente, com os braços estendidos, sem gorro, de boca aberta e com os olhos redondos e brancos de loucura.
Os miolos de Biélotchka, respingaram as botas de Sachka. Ele limpou a mancha com um lenço." Aleksandr Krupin, Cambrino, In: O bracelete de granadas. pp. 103-104