domingo, 1 de janeiro de 2017

"Todos os beijos que não demos e os que não recebemos, os sorrisos que não nos deram e a timidez de nossos amores não reforçaram e selaram nossas solidões? Tantas recusas da vida não fizeram de nós lutadores exaltados? E, quando nós próprios recusamos, não o fizemos com o orgulho e a esperança de outros triunfos? Onde está a origem de nossas solidões senão em um amor que não pôde transbordar e que alimenta todas essas solidões, em todo esse amor preso em nós? Todo nosso desejo pelo absoluto, por tornar-nos deuses, demônios ou loucos, toda a vertigem engendrada pela busca de outras eternidades e a sede de mundos infinitos não nasceram de tantos e tantos sorrisos, abraços e beijos que não compartilhamos e que nos são desconhecidos? Não estamos buscando o todo, por que perdemos algo? Um único ser poderia salvar-nos do caminho em direção ao nada. Somos tantos os que perderam o individual, a existência, que nossas solidões crescem sem raízes, como as algas abandonadas à mercê das ondas. Mas nossas solidões, nutridas por tantos amores insatisfeitos, são bastante fortes para sustentar nosso impulso na direção de outros mundos e de outras eternidades." O livro das ilusões, Emil Cioran. p. 41

Nenhum comentário: