domingo, 25 de janeiro de 2015

Algumas observações sobre a amizade, por Vassili Grossman


"...
      A amizade de intelecto, contemplativa, filosófica, normalmente exige unidade de pontos de vista, mas essa semelhança pode não ser universal. Às vezes a amizade se manifesta na discussão, na dessemelhança dos amigos.
     Se os amigos são semelhantes em tudo, se um é o reflexo do outro, então a discussão com o amigo vira uma discussão consigo mesmo.
    O amigo é aquele que justifica as fraquezas, os defeitos e até os vícios que você tem, e que confirma a sua razão, seu talento e seu mérito.
      O amigo é aquele que, por amor, revela a você suas próprias fraquezas, defeitos e vícios.
     Assim, a amizade tem fundamento na semelhança, mas se manifesta nas diferenças, contradições, dessemelhanças. Uma pessoa na amizade tenta, de forma egoísta, receber aquilo que não tem. Outra pessoa tenta generosamente dar aquilo que possui.
...
     A verdadeira amizade não depende de o seu amigo estar no trono ou de, derrubado trono, ter ido parar na prisão. A verdadeira amizade se refere às características internas da alma e é indiferente à glória e à força exterior.
   A amizade tem formas variadas, conserva-se de maneiras diversas, mas um fundamento da amizade é inabalável: a fé na constância do amigo, na fidelidade do amigo. E por isso a amizade é especialmente maravilhosa onde o homem serve o sábado. Lá, onde o amigo e a amizade foram imolados em nome de interesses superiores, o homem declarado inimigo dos ideais superiores, que perdeu todos os seus amigos, acredita que não vai perder um único amigo." Vida e Destino, Vassili Grossman, págs. 382-383

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