sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Judas e o calor

               Diante do calor infernal goianiense, não tenho a menor satisfação em dizer que pelo menos não é o calor do Pará. No entanto, os meus conterrâneos estão em festa hoje, no calor dos infernos peculiar de Belém, mas eles têm uma baia gigantesca, praias, rios e igarapés. Voltando ao calor goianiense, pois é impossível dormir até mais tarde, o sol bate à sua janela já por volta das 6:00h da manhã, então o jeito é ficar de pé e fazer a leitura matinal. Desta segue um trecho do mestre Graciliano Ramos, da época em que vivia nas Alagoas, lá também grassam maravilhosas praias. Tudo conspira contra Goiânia!!! Vamos ao trecho retirado de um texto de 1921.
              "Quem é santo nestes tempos prosaicos em que o dólar governa o mundo? As consciências tornaram-se mercadoria vulgar. As almas vendem-se e vendem-se caro.
              Judas hoje não se enforcaria. Já nenhum traidor se enforca. Trinta dinheiros eram, talvez, uma quantia insignificante, capaz de levar um homem ao desespero de passar uma corda no pescoço. Atualmente é possível obter somas tentadoras, que dão rendimentos consideráveis a um traidor que se respeita.
            Nenhum Iscariotes se suicida. Se os contemporâneos seguissem o exemplo do antigo, não haveria no mundo figueiras que bastassem para pendurar tantos laços..." Graciliano Ramos, "Judas", 1921.

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