sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A esquerda eleitoral é conivente a farsa parlarmentar

              Os meus amigos que defendem o voto nulo em muitos aspectos têm razão. Um deles merece destaque, por quê os ditos partidos de esquerda não fazem um ataque a sordidez que é o regime parlamentar e as eleições? Não precisa ser um ataque na época das eleições, pode ser depois, obviamente, a questão é outra. O problema é que ninguém quer questionar o próprio sistema metabólico que lhe garante a vida. E por outro lado, são raras as pessoas que se manifestam contra esta farsa, pois tem medo de receberem a pecha de antidemocráticos, totalitários, ou coisa que o valha. Sendo assim, a esquerda eleitoral adora perder eleições, e quando as ganha, chafurda na lama.
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            "Quando a ´riqueza das nações´ dominantes está baseada em longínquos mundos subalternos e dependentes, democratas e antidemocratas (à antiga) - isto é, direita e esquerda (no Ocidente moderno) - numericamente se equilibram. Ou melhor, a tendência é a esquerda perder as eleições. Este é o principal motivo pelo qual as formações políticas de direita ostentam uma particular devoção ao mecanismo parlamentar (vulgarmente chamado `democrático´). E é um dos instrumentos essenciais para o exercício do poder guarnecido de ´consenso´. 
         Na verdade, é impróprio definir como ´democracia´ um sistema político no qual o voto é mercadoria no mercado político, e a admissão ao Parlamento requer um ´dispêndio´ eleitoral fortíssimo por parte do aspirante a ´representante popular´. Esse aspecto entristecedor ( mais ainda no plano ético do que no democrático) e fundamental do sistema parlamentar permanece, em grande parte, obscuro. Contudo, é o pilar básico do sistema. A camada política representa tendencialmente as classes médio-altas e abastadas. Mas é considerado antiparlamentar afirmar abertamente essa verdade de imediata evidência.
            A frequente derrota eleitoral da esquerda nos países ricos de tradição parlamentar consolidada ( que são também os países decisivos do planeta) fica, assim, mais fácil de ser compreendida. À PRIMEIRA VISTA, É CURIOSO QUE JUSTAMENTE A ESQUERDA NÃO APRECIE ENFRENTAR E SE APROPRIAR, E QUEM SABE DIVULGAR, UMA CRÍTICA LÚCIDA DO MECANISMO PARLAMENTAR, DO QUAL É VÍTIMA, POR MEDO DE SER DIFAMADA COM ADJETIVOS E JULGAMENTOS DESONROSOS. É súcuba da cultura de seus adversários.
          Mas, se a esquerda perde muito frequentemente as eleições, isso significa que em geral ela não agrada aqueles a em solicita o consenso. Por que isso acontece? UMA RAZÃO DETERMINANTE É QUE, EM CONDIÇÕES ´NORMAIS´, NOS PAÍSES RICOS E DECISIVOS, A =´MAIORIA´ PREFERE, OU MELHOR, ADORA, OS VALORES, O COMPORTAMENTO E OS MODELOS REPRESENTADOS PELOS DETENTORES DA RIQUEZA. Não é por acaso que os grandes veículos de informação, os jornais, populares ou não, a televisão, etc., costumam tratar exclusivamente da vida (inclusive a vida privada) dos poderosos. Eles são, tanto no plano público quanto no privado, o objeto privilegiado do discurso público. A eventual ´janela´ que surge enfocando a vida de determinadas pessoas comuns só se abre para veicular possivelmente a ´mudança de lugar´de algumas delas na escala social, mudança que talvez tenha se dado por meio desse potente instrumento de poder que é a comunicação de massa." crítica da retórica democrática, Luciano Canfora, págs. 31-32

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