segunda-feira, 20 de julho de 2015

UM LUGAR-COMUM INVERTIDO




          Se há uma certeza que podemos deduzir das discussões e troca de ofensas em relação a política atual é que elas bem se encaixam na expressão proferida por Bazárov, o niilista de Pais e Filhos, do grande escritor russo Turguêniev.
" - Não existem brigas por mesquinharias para o homem que não quiser dar importância a elas.
- Hm... isso que você disse é um lugar-comum invertido.
- Como? O que você entende por essa expressão?
- É o seguinte: dizer, por exemplo, que a instrução é perniciosa constitui um lugar-comum invertido. Parece mais sofisticado, mas no fundo é a mesma coisa..." Ivan Turgueniêv,Pais e Filhos. p.194.

            O importante comunista italiano, Antonio Gramsci, numa pequena nota dos Cadernos do Cárcere, destacou a passagem de Bazárov justamente para exemplificar o simplismo dos debates políticos na Itália de sua época.
"... Para muitos, ser ´original´ significa apenas inverter os lugares-comuns dominantes numa certa época: para muitos, este exercício é o máximo da elegância e do esnobismo intelectual e moral. Mas o lugar-comum invertido permanece sempre um lugar-comum, uma banalidade. O lugar-comum invertido talvez seja ainda mais banal do que o simples lugar-comum. O bohémien é mais filisteu que o comerciante interiorano. Daí aquele sentimento de tédio que advém da frequência de certos círculos que se acreditam de exceção, que se apresentam como uma aristocracia distanciada da vida ordinária. O democrata é maçante, mas muito mais o é o autoproclamado reacionário que exalta o carrasco e, quem sabe as fogueiras..." Antônio Gramsci, Cadernos do Cárcere, vol.4. p. 141
Como se vê, não importa a época, ou o local, o lugar-comum invertido continua dominando as discussões.

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