segunda-feira, 20 de julho de 2015

       Diálogo entre Díaz Grey, e o incorruptível Euclides Barthé, no qual se negocia a aprovação de uma concessão/"terceirização" de um porto municipal. Em troca, os vereadores conservadores aprovariam a legalização de um prostíbulo. Obviamente trata-se de uma peça ficcional, escrita por um uruguaio.
"Sem precisar olhar, Diáz Grey via a pequena boca rosada, saliente e incorruptível.
- Ele me disse que não se tratava de concessão do porto. Apenas do serviço dos carregadores.
- Nunca - bufou Barthé; sorria no martírio. - Dá lucro. Vai ser um desserviço à comunidade. Talvez esteja desorganizado, mas dá lucro, e pertence ao povo. E, mesmo que não fosse assim, os serviços públicos devem ser administrados pela comunidade, socializados.
- Está certo. Vou dizer pro Arcelo
...
- Bom, estou com pressa. Estão me esperando no consultório e tenho duas visitas na Colônia. Eu me comprometi com o Arcelo a transmitir a proposta ao senhor. Os conservadores querem o seu voto para a concessão dos carregadores. Se o senhor votar a favor, eles se comprometem a aprovar o projeto do prostíbulo. Entendido?
...
- Entendido? - repetiu Díaz Grey. - E tem mais. Eles se dispõem a favor do prostíbulo, antes, quando o senhor indicar, em troca da sua palavra de que mais adiante irá votar a concessão dos carregadores..."
Juan Carlos Onetti. Junta-cadáveres. 

Nenhum comentário: