segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A felicidade

"...Ah, então temos mais um sábio? Ora, ora. Achega-te... Não saberias em que está a felicidade?
          O sábio - e ele era um verdadeiro sábio - respondeu:
- A felicidade está no esplendor do pensamento humano.
O soberano  teve um estremecimento de sobrancelhas e entro a gritar, colérico:
- Ora! O pensamento humano! Que é o pensamento humano?
O sábio - pois ele era um verdadeiro sábio - apenas sorriu, compadecido.
Então, o imperador ordenou que o atirassem à masmorra, onde havia escuridão eterna e não penetrava  nenhum som de fora. Um ano depois, conduziram a ele o cativo, que ficara cego e surdo e mal se aguentava em pé.
- Então? Ainda és feliz agora?
O sábio respondeu tranquilamente:
- Sim sou feliz. Na prisão, fui imperador, dono de tesouros, amei, tive mesa farta, passei fome, e tudo isso me foi dado pelo meu pensamento.
- Mas que é o pensamento ?! - exclamou o monarca com impaciência - Pois fica a saber que, daqui a cinco minutos, eu te enforcarei e cuspirei no teu rosto maldito! Então, ainda te consolará o teu pensamento? Onde estarão, então, os pensamentos, que desperdiçaste pelo mundo?
O sábio respondeu-lhe tranquilamente, pois era um verdadeiro sábio:
- Parvo! O pensamento é imortal."

                                                  Aleksandr Ivánovitch Kuprin, "A felicidade". O bracelete de granadas. pp. 37-38.

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