quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


"Taca-le pau" Tragtenberg
"....A ilusão do peão é que haja governo de peão. Mesmo aquele que foi peão e hoje ingressa em partido político - seja PDT ou PT -, se eleito, deixará a fábrica, frequentará o Parlamento, terá que vestir-se de terno, colete e gravata e, às vezes, usar suspensórios. Com os anos ele esqueceu que foi peão. Numa nova eleição ele lembra de novo que fora peão, aí põe boné, camiseta e vai pedir votos em porta de fábrica. Porque o maior problema para aquele que foi eleito pela primeira vez é ser reeleito. Assim é que começam as carreiras políticas. Vai começar a falar "enrolado", deixar de ser o "ponta firme" na Cipa ou fora dela, para se transformar em "representante do povo" com guarda-costas (segurança), que só fala com peão em hora marcada e distribui cartão de "representante do povo" aos amigos. A defesa do trabalhador reside nele e só nele, na consciência que ele tiver e que ele tem que se organizar a partir do local de trabalho para lutar pelo que é seu, por seus direitos. A auto-organização pelas comissões de fábrica ou bairro é o caminho; abrir mão disso, esperando que alguém, no Parlamento ou ocupando o governo do estado, lute e se lembre dele, é mera ilusão.
O mais urgente para o trabalhador é ter salário digno, moradia digna, educação para ele e seus filhos, atenção médica. E isso ele só conseguirá se confiar na sua auto-organização a partir do local de trabalho, juntando-se a outras categorias de trabalhadores na luta comum. O que o trabalhador precisa se convencer é que não pode ser escada de carreiristas que queiram subir na vida trepados em seu lombo. Sejam essas carreiras as de operários, advogados, médicos, engenheiros, professores ou o diabo a quatro."
Maurício Tragtenberg, Notícias populares, 14/11/1982

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