segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Crônica dos anos soviéticos sob o domínio de Stálin

"Olhando para o retrato de Stálin pendurado na parede, Guétmanov levantou o cálice e disse:
- Então camaradas, o primeiro brinde é para o nosso pai. Saúde a ele!
Disse essas palavras com uma voz um tanto rústica e amistosa. A conotação desse tom sem floreios era que todos conheciam a grandeza de Stálin, mas as pessoas reunidas à mesa bebiam à sua saúde apreciando nele acima de tudo o ser humano simples, modesto e sensível. E o Stálin do retrato, com os olhos semicerrados, parecia olhar para a mesa e para os seios fartos de Galina Teriêntievna e dizer: 'Rapaziada, vou pitar o meu cachimbo e me sentar mais perto de vocês´.
- Verdade, vida longa ao nosso pai - disse o irmão da dona da casa, Nikolai Tiriêntievitch. - O que seria de nós sem ele?
Ele olhou para Sagaidak, segurando o cálice perto da boca, esperando que ele dissesse algo, mas Sagaidak contemplou o retrato: 'DE QUE É QUE SE PODE FALAR, NOSSO PAI? VOCÊ JÁ SABE TUDO´, e bebeu. Todos beberam" Vassili Grossman, Vida e destino, pp.110-111.

Obs.: não podia deixar passar essa sem pública-la, o final em caixa alta é por minha conta.

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