domingo, 13 de novembro de 2011

Humanismo e terror na visão de George Steiner

A cultura humanística apresenta-se como um antídoto para a barbárie, trata-se de um intelectualismo que não percebe que as sementes da violência estão presentes no ser. Como bem observa George Steiner, as experiências da primeira metade do século XX demonstram que o humanismo é frágil frente às disputas pelo poder.

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“[...] Não posso aceitar o fácil consolo de que essa catástrofe foi um fenômeno puramente alemão, ou um nefasto acaso, com raízes na personagem de um ou outro governante totalitário. Dez anos depois de a Gestapo retirar-se de Paris, os compatriotas de Voltaire torturavam argelinos e uns aos outros nos mesmos porões das delegacias. A morada do humanismo clássico, o sonho da razão que inspirou a sociedade ocidental, havia em grande parte ruído. Idéias de desenvolvimento cultural e de racionalidade inata, aceitas desde a antiga Grécia e ainda de expressiva validade no historicismo utópico de Marx e no autoritarismo estóico de Freud (ambos suplantadores tardios da civilização greco-romana), não podem mais ser sustentadas com muita segurança. A capacidade do homem tecnológico, como ser suscetível ao controle do ódio político e da insinuação sádica, estendeu-se espantosamente rumo à destruição.”STEINER, GEORGE. Linguagem e silêncio, pág. 15.

“[...] O grau máximo da barbárie política desenvolveu-se no cerne da Europa. Dois séculos após Voltaire ter proclamado seu fim, a tortura volta a tornar-se um processo normal de ação política. Não apenas a difusão geral de valores literários e culturais demonstrou não ser obstáculo ao totalitarismo, como também, em alguns casos que se puderam observar, os altos círculos do saber e da arte humanísticos de fato acolheram e ajudaram o novo terror. A barbárie predominou no próprio berço do humanismo cristão, da cultura renascentista e do racionalismo clássico. Sabemos que alguns homens que conceberam e administraram Auschwitz foram educados lendo Shakespeare ou Goethe, e continuavam a lê-los.” STEINER, GEORGE. Linguagem e silêncio, pág. 23.

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