quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Definições de ateu (1)

A nossa profissão de fé não é a religiosa, mas sim a dúvida. Não apresentamos verdades, como livre-pensadores sempre defenderemos o ceticismo. O benefício da dúvida é nosso, e os religiosos? Eles se permitem a dúvida? Talvez, a dúvida se a sua submissão é adequada ou não ao seu deus.

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Nesta postagem darei início à apresentação de várias definições do ateu. Iniciamos com a definição de Sylvain Marechal (1750-1803), advogado no Parlamento francês.

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O que é um ateu?

(Sylvain Maréchal, 1800)

Pois bem! Um verdadeiro ateu é esse homem do século de oiro. O ateu é o que, limitando-se a sim mesmo e libertando-se das ligações que o fazem constranger apesar de si ou como saída, remonta através da civilização a esse antigo estádio da espécie humana e, criando no fórum da sua consciência mais baixa e em seu redor preconceitos de todas as cores, se aproxima mais de perto desse tempo afortunado em que não se duvidava da existência divina, onde se achava bem e cumpria apenas os deveres da família. O ateu é o homem da Natureza.

No entanto, colocado hoje numa esfera mais complicada e mais estreita ele cumpre as suas obrigações de cidadão e resigna com as regras da própria necessidade. Mas sem deixar de lamentar as bases viciosas das instituições políticas, manifestando o seu desprezo por aqueles que tão mal as organizam e submetendo-se à ordem pública em que se encontra. E não se vê ele tornar-se chefe de partido ou de opinião. Nunca o encontram na linha normal que conduz aos empregos vantajosos ou mais brilhantes. Conseqüente com os seus princípios, vive sempre no meio dos seus contemporâneos corruptos ou corruptores, como esse viajante que, tendo de atravessar regiões lamacentas, se protege do veneno dos répteis. Ele evita ser aturdido pelos silvos. E caminha entre esses malfeitores, sem adoptar a sua atitude tortuosa e rasteira.

O verdadeiro ateu não é, pois, esse sibarita que, considerando-se como epicurista, não passa afinal de um debochado, não receia dizer ou repetir: “Não existe Deus e, portanto, não existe moral e tudo me posso permitir”.

O verdadeiro ateu não é nunca esse homem de Estado que, sabendo que a quimera divina foi imaginada para ser imposta às gentes do povo, as comanda em nome desse Deus de que ele zomba.

continua

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