quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Verbetes interessantes para o período eleitoral brasileiro

            Em período eleitoral é bom refletir sobre alguns termos usados pelos candidatos (as). Então, visando contribuir com os nossos eleitores que acreditam que podem mudar alguma coisa na ordem estabelecida, disponibilizo alguns verbetes do “Dicionário do Diabo”, de Ambrose Bierce. Não estranhe alguns verbetes passarem pela religião. Trata-se de uma escolha deliberada, pois nestas eleições, a religião tornou-se elemento fundamental no discurso de alguns (mas) candidatos (as).

OBS.: AVISO AOS CRISTÃOS INDIGNADOS. Os cristãos mais indignados com o comportamento alheio, são os que menos leem, e que sustentam suas opiniões com base nas falácias de outros, mais ignorantes ainda, ministros religiosos. Para estes, deixarei aqui alguns links, tanto para informação sobre quem foi Ambrose Bierce, e o que significa a palavra sarcasmo.




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CANDIDATO – Cavalheiro modesto que foge à distinção da vida privada e busca diligentemente a honrosa obscuridade do cargo público.
CLÉRIGO – Homem que se dedica a cuidar dos nossos interesses espirituais, como meio de melhorar os seus materiais.
COMPROMISSO – ajuste de interesses conflitantes, para dar a cada adversário a satisfação de pensar que obteve aquilo a que não tinha direito e que nada perdeu exceto o que realmente devia.
CONSERVADOR – Estadista enamorado dos males existentes, distinto do liberal, que deseja substituí-lo por outros.
CRISTÃO – Alguém que segue os ensinamentos do Cristo, desde que não inconsistentes com uma vida de pecado.
ELEITOR – Alguém que goza do sagrado privilégio de votar num homem escolhido por outro.
ESCRITURAS – Os Livros Sagrados da nossa santa religião, distintos dos escritos falsos e profanos em que se baseiam  todas as demais religiões.
EXORTAR – Em assuntos religiosos, pôr a consciência de outrem na grelha e tostá-la até ficar incomodamente queimada.
FANÁTICO – Alguém obstinadamente preso a uma opinião que não é a nossa.
– Crença sem fundamento no que é contado por alguém que fala sem conhecimento sobre coisas sem paralelo.
IDIOTA – Membro de uma grande e poderosa tribo cuja influência nos assuntos humanos sempre foi dominante e controladora.
               - A atividade do idiota não se confina a qualquer área especial de pensamento ou ação, mas impregna e regula todo o conjunto. Tem ele a última palavra em tudo, e sua decisão é inapelável. Fixa os modelos de opinião e o gosto, dita os limites de palavra e circunscreve a conduta com uma linha-limite.
IMPUNIDADE – Riqueza.
JUSTIÇA – Produto que, em condição mais ou menos adulterada, o Estado vende ao cidadão como prêmio à sua fidelidade, aos impostos que paga e aos serviços postais que presta.
LADRÃO – Um homem de negócios sincero.
LIBERDADE – Um dos mais preciosos bens da imaginação.
MÃO – Singular instrumento usado na extremidade do braço humano e comumente metido no bolso dos outros.
MATAR – Criar vaga sem nomear sucessor.
MORAL – Que tem a qualidade da conveniência geral. Conforme a um padrão de direito local e mutável.
NEPOTISMO – Nomear a avó para um cargo, pelo bem do Partido.
ORAR – Pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um peticionário isolado confessadamente imerecedor.
ORATÓRIA – Conspiração entre a palavra e a ação para ludibriar o entendimento;
                - Uma tirania moderada pela estenografia.
PATRIOTA – Alguém pra quem os interesses de uma parte parecem superiores aos do todo. É o trouxa dos estadistas e a ferramenta dos conquistadores.
PATRIOTISMO – Lixo combustível pronto para que a tocha de qualquer ambicioso lhe ilumine o nome.
PERORAÇÃO – A explosão de um foguete oratório. Tonteia, mas para o observador que não tem o tipo adequado de nariz, sua mais notória peculiaridade é o cheiro das várias qualidades de pólvora usadas em seu preparo.
PLENÁRIO – Em política, ratoeira imaginária onde o estadista luta contra os anais.
POLÍTICA – Conflito de interesses disfarçado em debate de princípios.
                - A condução dos negócios públicos para o benefício particular.
POLÍTICO – Uma enguia na lama fundamental sobre que se ergue a superestrutura da sociedade organizada. Quando ele se vira, confunde a agitação da cauda com o tremor do edifício. Comparado com o estadista, sofre a desvantagem de estar vivo.
PRESIDÊNCIA – O leitão escorregadio, no jogo roceiro da política americana.
PRESIDENTE – A principal figura num pequeno grupo de homens sobre os quais – e sobre eles somente – se sabe positivamente que números imensos de seus compatriotas não querem nenhum para a presidência.
PROPRIEDADE – Qualquer coisa material, sem nenhum valor especial, que possa pertencer a A para despertar a cobiça de B.
                - Qualquer coisa que satisfaça a paixão de possuir de um e a desaponte em todos os outros.
                - Objeto da breve rapacidade e da longa indiferença humana.
RECONTAGEM – Na política americana, tornar a jogar os dados, segundo jogador contra o qual estão chumbados.
REFORMA – Coisa que muito satisfaz aos reformadores que se opõem à reformação.
RESPEITABILIDADE – Filha da união entre uma careca e uma conta bancária.
SANTO – Um pecador revisto e corrigido.
SENADO – Corporação de cavalheiros idosos, incumbida de altos deveres e deslizes.
VEREADOR – Criminoso astuto, que encobre seu furto secreto sob o disfarce da pilhagem aberta.
VOTO – Instrumento  e símbolo do poder do homem livre de fazer de si um tolo e do país uma ruína.

OBS.: todos os verbetes foram retirados do texto, “Dicionário do Diabo”, presente na coletânea, “Fábulas Fantásticas” (Editora artenova, 1973), de Ambrose Bierce.


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