segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Direito ao corpo

            O fato de a mulher muçulmana não ter o livre direito sobre seu corpo está entre as principais críticas ao mundo islâmico. De fato é uma crítica pertinente, entretanto, é correto determinar tal prática como uma das justificativas para afirmar que os muçulmanos compõem uma civilização atrasada? A Arábia Saudita tem uma legislação extremamente restritiva em relação as mulheres, no entanto, é um dos países mais ricos do mundo, e possui elevado grau de modernidade econômica. Os Estados Unidos não se furtam a negociar e apoiar  os reis sauditas. Mas, mesmo diante desta contradição, vemos espíritos ingênuos apoiarem a ideia de uma guerra contra o atraso islamita, seguros de que estão defendendo a civilização ocidental. Também na nossa civilização Ocidental, há casos de barbárie, e negação do direito ao corpo.
          Há alguns dias atrás, lembrava-me de ter lido um texto onde eram destacados os casos de contaminação por herpes de bebês submetidos a circuncisão, o que ocorreu na cosmopolita Nova York. Ora, pois ali existem judeus ortodoxos, que submetem seus filhos a tais abusos. Obviamente a eles não é creditado a pecha de radicais incivilizados. Se em Nova York, terra secularizada, isto acontece, imaginem em Israel, nas comunidades mais ortodoxas. Mas os bárbaros estão sempre do outro lado do muro.  Para melhor informação, segue o link da reportagem no site de Paulo Lopes, e depois, o texto a que me referi.

Reportagem no site de Paulo Lopes: 

Texto de Christopher Hitchens sobre caso ocorrido em 2005.

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...Descobriu-se que em Nova York, no ano de 2005, o ritual, realizado por um mohel de 57 anos de idade, trasmitiu herpes genital a vários meninos e causou a morte de pelo menos dois deles. Em circunstâncias normais a revelação teria levado o Departamento de Saúde Pública a proibir a prática e o prefeito denunciá-la. Mas, na capital do mundo moderno, na primeira década do século XXI, não foi o caso. Em vez disso, o prefeito Bloomberg ignorou os relatórios de respeitados médicos judeus que alertavam para o perigo do costume e determinou a sua burocracia sanitária que adiasse qualquer veredicto. A questão fundamental, disse ele, era assegurar que a livre prática da religião não estivesse sendo infringida. 
Christopher Hitchens, deus não é Grande, pág.55 

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Segue um trecho elucidativo sobre o prazer das mulheres, segundo os princípios de Maimônides, em o Guia para os perplexos.

Com relação à circuncisão, uma das razões para ela, em minha opinião, é um desejo de conseguir uma redução do intercurso sexual e um enfraquecimento do órgão em questão, de modo que essa atividade seja reduzida e o órgão esteja no estado de maior repouso possível. Acredita-se que a circuncisão aperfeiçoa o que é congenitamente defeituoso (...) Como as coisas naturais podem ser defeituosas de modo a precisarem ser aperfeiçoadas externamente, especialmente quando sabemos quão útil é o prepúcio para aquele membro? Na verdade, esse mandamento não foi prescrito com o objetivo de aperfeiçoar o que é moralmente defeituoso. A dor corporal causada ao membro é o verdadeiro objetivo da circuncisão. (...) O fato de que a circuncisão reduz a capacidade de excitação sexual e algumas vezes talvez diminua o prazer é indubitável. Pois, se no nascimento esse membro sangrar e tiver sua cobertura removida, ele indubitavelmente tem de ser enfraquecido.

Apud, deus não é Grande, pág. 205

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Se foram criados limites a barbárie religiosa, eles tiveram origem na secularização. O resto é bobagem...



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